De acordo com a medicina tradicional, temos faixas de idade. Até os 18 anos somos jovens, tendo aí as sub-divisões para infância, pré-adolescência e adolescência; dos 19 aos 30 somos adultos; dos 31 aos 45 estamos na flor da idade. Será, então, que podemos ser considerados anciãos a partir dos 46 anos? Ou, como na matemática arredondamos todos os valores àqueles que nos são mais práticos, será que podemos ser considerados anciãos a partir dos 50 anos?
Durante a viagem de Carnaval, me deparei com uma dúvida que deve assolar muita gente: a partir de que idade alguém pode ser considerado velho? Tanto em Rio das Ostras quanto em Ibicuí tive oportunidade de ver que as pessoas criam suas próprias covas.
Vamos aos fatos: em Riodas (costumo me referir a Rio das Ostras como Riodas. Apenas um apelido carinhoso) meu avô convidou minha avó para passear e aproveitar o dia lindo que fazia, com céu azul claro límpido e uma briza deliciosa às 16h. Não é de seu feitio fazer este tipo de convite e esta foi a ação que mais chamou minha atenção no Carnaval. Minha avó, porém, tem um problema na vista bem incomum e precisa agir como uma fotofobia: usando óculos escuros especiais e chapéu, se possível, quando for exposta à luz do sol. Por causa disso, recusou um lindo passeio pela orla da praia com seu marido, pessoa que raramente a convida para dar passeios deste tipo e com a qual vive tendo desentendimentos por conta de problemas internos - ambos, no entanto, ainda sentem amor um pelo outro, e isto é notório.
Tentei, em vão, convidá-los separadamente para saírem comigo, mas nenhum deles quis. Meu avô disse que não estava muito a fim de sair e minha avó usou sua doença como desculpa. Informei-a de que bastava apenas usar um óculos escuro e um boné/chapéu, mas não houve meio. Eles foram irredutíveis em suas vontades. Fui andar com meu namorado, então.
Em Ibicuí, presenciei uma cena de depressão crônica. Era aniversário de uma parente e 5 pessoas das 10 que estavam na casa ficaram muito gripadas e escolheram não participar do almoço comemorativo daquele dia. Estavam debilitados, com dores de cabeça, vômitos e febris, necessitavam de descanso. As demais estavam à mesa, comendo, bebendo e celebrando.
No entanto, isto não foi suficiente e a anfitriã começou a chorar, chorar compulsivamente. Lamentava o fato de ter feito todo um preparo especial para passar o dia feliz e com todos ao redor e ter sido tudo em vão, já que muitos estavam doentes e não estavam lotando a mesa da sala de jantar, como de costume. Devo admitir que não esperava uma resposta para o pensamento da anfitriã à altura da pessoa que a disse - não que eu tenha algum tipo de discrepância com ela, são apenas idéias muito inversas -, porém foi a melhor das respostas que poderiam surgir naquele momento: "Você não deve ficar triste pelo fato das outras pessoas estarem doentes. Você deveria fazer como nós, que estamos torcendo para que elas melhorem e estamos comemorando o fato de estarmos aqui, saudáveis, podendo fazer deste aniversário o melhor possível."
Aquilo me preencheu por completo. Não esperava aquela resposta. Na realidade, nem mesma eu sabia o que dizer a ela, que chorava bastante. Mas aquela resposta foi certeira e ela - a anfitriã - começou a refletir sobre aqueles palavras. O restante do dia talvez não tenha sido o imaginado por ela, mas foi melhor do que ela achava que seria, com certeza. Aquelas sábias palavras ganharam o dia.
A partir destes dois fatos, faço uma pergunta: quando se está velho? O que é velhice?
É quando você chega aos 60 anos ou quando sua mente acha que você chega? Por que uma pessoa de 30 anos teve de ensinar algo tão básico a uma outra pessoa que poderia ser sua mãe?
No meu ponto de vista, e que fique aqui bem claro que ele é apenas um ponto de vista, a velhice é um estado de espirito mental, ou seja, é quando você olha pro espelho e pensa: estou ficando velho(a). É quando você, inconscientemente, diz que está pronto para enfrentar problemas como problemas nos ossos, visuais, auditivos, de coordenação, de memória...
Quando estes problemas começam, começamos também a ficar dependentes de outras pessoas, mas, durante toda a nossa vida, somos ensinados a ser muito independentes. Desde pequenos nossos pais nos ensinam a limpar a casa, fazer comida, fazer os deveres do colégio. Entramos na faculdade e vimos que, lá dentro, o mundo é todo diferente e depende unicamente de nossas escolhas. A sociedade faz força para que os filhotes deixem seus ninhos quando conquistam um emprego, ainda mais público e, assim, conquistamos a tão sonhada independência econômica. Porém, quando, no sub-consciente, escolhemos aceitarmos como idosos, não lembramos que não sabemos ser dependentes de alguém e que isto fere nosso próprio ego e ficamos tristes com esta novidade. Talvez esta nova etapa faça com que algumas pessoas se recolham mais em suas casas, evitando fazer atividades diferentes das usuais.
Então, acho que uma pessoa só é velha quando decide, insconscientemente, ficar dependente de outras sem querer isto. E, a partir do momento que ela não quer isto, a vida passa a ser um fardo, algo chato. As pessoas acabam ficando "reclamonas" demais; pudera! Estão desgostosas com a vida, já que tornou-se algo que elas não esperavam no plano consciente. E se a vida tornou-se algo, é porque pode ser transformada ainda.
Logo, concluo que uma pessoa só é velha quando quer, posto que se sua vida não está como ela gostaria, basta força de vontade para mudar. Uma idosa de 70 anos pode ter, e tem, a mesma força de vontade de um jovem de 15, basta querer. A idade é como a mudança do design de um vidro de perfumes: a parte de fora vai sendo modificada com o passar do tempo, mas a essência é sempre a mesma. Você pode ter 12 anos em 25 ou 30 em 15, it's up to you, then.
E você? Quantos anos você tem?
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