"Eram 14h30 do dia 04 de setembro de 1969 quando um fusca azul guiado por Cid Benjamin bloqueou a rua Marques, no bairro de Botafogo, no momento em que passava o Cadillac preto em que estava Elbrick. (...) Eles renderam o embaixador e seu motorista, tomaram o Cadillac e o estacionaram em uma rua pouco movimentada. O motorista foi deixado no veículo com um bilhete em que estavam descritas as exigências para o resgate."(Fonte: Folha On Line)
"Pressionado, o governo brasileiro aceitou as condições impostas pelo grupo, frisando que a iniciativa visava impedir o sacrifício da personalidade americana."
(Fonte: JBlog)
Estes dois ali em cima são relatos do rapto (como os próprios membros do MR-8 preferem chamar) do embaixador dos Estados Unidos, Elbrick, durante o regime militar. O que poucos sabem é que o rapto não foi, em hipótese alguma, desrespeitoso ou mantido à imagem e perfeição da ditadura, com torturas físicas e psicológicas. O relato abaixo, de um dos principais nomes do dia 04 de setembro de 69, reflete bem esta afirmativa (existem relatos do próprio embaixador, enquanto ainda em vida, comentando sobre como era tratado pelos membros do MR-8, e ele próprio citava que em momento algum foi tratado de forma desrespeitosa, ao contrário do que diversos boatos diziam):
" - Como se comportou o embaixador?
- Tenho admiração por ele. Ele é o que, nos Estados Unidos, se chama um liberal. Tinha uma visão contrária à guerra do Vitenã, tudo isso... ele não tinha noção da gravidade da situação no Brasil. Ele não tava há muito tempo também no Brasil, entende? Ele tava há um ano, mais ou menos? Então ele não tinha noção... os relatos foram sendo feitos sobre tortura, etc, foi algo que chocou muito ele, ele ficou muito chocado. E você sente que você tinha criado um... uma coisa genuína, sincera, da parte dele, um interesse... tudo bem, isso por um lado, agora, por outro lado, ele sabia que... estava podendo morrer a qualquer momento. Ele não tinha dúvida nenhuma de que ele seria executado. E o curioso é que, no meio disso, se estabeleceu uma relação altamente respeitosa, dele entender o que era o Brasil e nós entendermos como era a cabeça de um oficial de um departamento (...)"
(Fonte: relato de Franklin Martins ao documentário "Hercules 56")
Andei pensando muito em toda a situação do Brasil do último ano, essas dezenas de greves que pipocaram nos últimos meses (professores federais, técnicos-administrativos, polícia federal, protestos ambientais diversos - inclusive contra a forma como foi apresentada e tratada a Rio+20, médicos, entre tantas outras categorias), e foi impossível não pensar em como dona Dilma está sendo intransigente neste momento, negando direitos tão humanos aos seus encarregados e aumentando tanto o que nem é de direito de outros humanos que não fazem por merecer o título natural que adquiriram. Mas intransigência me remete sempre e diretamente à ditadura militar e ao poderio armado que tudo silencia "em nome da liberdade", e é impossível não lembrar que nossa ilustre presidenta foi guerrilheira militar (fato do qual me orgulho MUITÍSSIMO. Ou, pelo menos, me orgulhava...).
E eu não pude deixar de me perguntar...
E se a Dilma de 1964 se encontrasse com a Dilma de 2012?
Será que a nova Dilma manteria a postura que vem tendo ao longo dos meses?
Fonte: https://encrypted-tbn2.google.com/images?q=tbn:ANd9GcSpgs-ukRRyZEG0RroNHMvN7YERTdnAMCRdSKh1VHFrSJX-vJ2a
Ou será que ela faria algo para abrir os olhos e ouvidos da nova Dilma e fazê-la lembrar dos tempos em que muitos amigos e parentes morreram justamente para lutar contra essas vendas?
Quantas marchas de cem mil mais precisaremos? Quantos Hércules precisaremos colocar à frente de passeatas e manifestações pra sermos ouvidos? Quantas greves mais precisaremos ter, quantos meses em greve precisaremos prolongar, pro governo entender que não estamos brincando?
Se o ministro da educação fosse raptado e sua liberdade estivesse condicionada à negociação com TODOS os servidores que estão em greve, e se houvesse a necessária pressão sobre o governo, será que o sucesso seria tão absoluto como o de 1969?
Na época da Ditadura, não havia negociação. Era matar ou morrer. A situação não é diferente: há intransigência governamental, queremos uma negociação que sequer está sendo colocada em pauta e a mídia anda tentando calar nossa boca com falsas informações, notícias propositalmente ambíguas para que fiquemos confusos!... Parece-me uma situação similar à ditadura, sendo que nenhum embaixador pode resolver nosso problema agora.
Sinceramente, acho que se a Dilma de 1964 se encontrasse com a Dilma de 2012 sentiria na pele a dor da incoerência. Não faz muito sentido ver uma pessoa, antes sedenta por liberdade, atualmente com tamanha indiferença para com as classes trabalhistas. Acho que, perante tudo isso, ela continuaria ativista, sempre na luta, sempre buscando o que é melhor pro seu povo, sempre buscando seus direitos. Mas, por algum motivo, não é isso o que vejo acontecendo com Dilma de 2012. E não falo da presidenta, falo da pessoa que está à frente de um grupo e precisa levá-lo à excelência. Para isso tanto faz se é um presidente ou se é um líder; no fundo é tudo igual e a meta é a mesma. A menos que não seja... ou que não seja identificada.
E, por favor, não me entendam mal: não estou querendo fazer forma alguma de organização revolucionária contra o sr. ministro da educação nem nada mais radical do que algumas votações em assembleias, passeatas e reivindicações presenciais e virtuais. Estou aqui expondo meus pensamentos, minhas indagações, expondo comentários e conclusões que tiro ao longo do dia, e também para explicar minhas tristezas, desilusões e raivinhas perante um governo cuja base é liberal e cuja realidade é completamente diferente do que o passado prega. Se nem mais isso eu puder fazer, então aí está a prova de que, entre diversos outros fatores que não cabem serem comentados neste post, o Brasil está caminhando para um novo tipo de ditadura, uma ditadura camuflada e nivelada, que só pode ser combatida com educação de alto nível.
... ah, é. Esqueci. Minha universidade está em greve...
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