Modernidade tem dessas coisas: as pessoas ainda conseguem se falar mesmo a dias de distância. E é tão legal imaginar em deixar um recadinho pra ela na internet pra quando ela acordar - e, no fundo, é como deixar um papelzinho colado na porta da geladeira pro filho não esquecer de comprar o jornal quando voltar da escola. Sabe? É como se ela fosse molhar as plantas do jardim da frente no dia seguinte logo cedo e o carteiro a recebesse com essa surpresa, esse cartão postal inesperado, com qualquer coisa escrita que a faça sorrir. E ela é tão bonita quando sorri... E é por isso que eu quero mandar esse postal. Mas, pra ser mais rápido, eu mando pela internet mesmo, numa mensagem bem bonita. Que eu ainda não escrevi. Eu ainda não sei direito o que escrever. Mas modernidade tem dessas coisas, a gente sempre pode descobrir se souber onde procurar...
Então eu entrei num desses sites de busca. Disseram o nome; já me esqueci. Sei que procurei por tudo o que eu ando pensando em dizer, pensando que eu encontraria algo que me fizesse pensar no que eu ainda não pensei, e que este pensamento me ajudaria a escrever algo que a deixasse pensativa por muito tempo. Tempo suficiente pra que ela pensasse em mim com saudades! Tantas saudades quanto ela pensa que eu tenho dela - que são, obviamente, menos saudades do que eu sinto de verdade. Procurei por saudade, tristeza, carinho, amor, solidão... tudo isso que eu sinto quando estou longe dela. E não é que deu certo? Eu imaginei tanta coisa bonita pra descrever pra ela, e tanta coisa triste também (que às vezes até penso que é melhor nem dizer pra não fazê-la chorar, apesar dela também ficar linda com aquele narizinho vermelho e a sobrancelha incontrolavelmente franzida)... não, nada de tristeza. Eu quero que ela se lembre de mim de uma forma feliz. Procurei por coisas que sinto quando estou com ela. Mas... bem. Essas eu também acho melhor não descrever.
E foi tanta coisa, tanta informação na minha cabeça, que eu não sabia mais o que fazer com tanta notícia. Agora eu tinha tudo o que eu precisava descrever, informar, eu só precisa descobrir um jeito. Se eu pudesse, eu atravessaria o mundo pra dizer tudo isso na cara dela (e ver o sorriso, o choro e a sobrancelha franzida tudo junto)! Ai, mas eu não posso, não consigo, algo me impede... mas na internet ela vai ver logo de manhãzinha, assim que acordar. E é isso o que eu vou fazer: vou escrever alguma coisa, de algum jeito, assim, bem bonito, bem direto, de forma que ela pense que eu sei escrever. De forma que ela pense que eu consigo, de alguma forma, ajeitar o que eu penso num papel, deixar tudo organizadinho. Acho que escrevendo dá pra esconder um pouco esse desespero, essa aflição de ficar sem ela por perto, essa sensação de pensamentos intercruzados, dúvida e saudade.
Procurei por crônicas. Queria escrever uma, ela gosta de crônicas. Queria falar de amizade, amor e saudade. Fui lendo tantas, várias. Mas nenhuma delas trazia o que eu queria, o principal que eu procurava. Acho que faltava um pouco dela em cada uma. Entende? Faltava um pouco daquele sorriso que ela dava ao me abraçar, e faltava o calor do corpo dela quando tinha medo. Faltava também aquele jeito doce de se preocupar com todo mundo que só ela tem e os momentos de raiva - que ela nega, mas são tão fofos quanto um esquilo gorducho na neve do Central Park. Em todas as crônicas que li tentando procurar uma forma para a minha, só eu não vi que a história inteira já estava escrita, de uma forma que só eu e ela poderíamos ler e entender. Só eu não percebi que a crônica já estava ali, nas minhas mãos, pronta para ser entregue. Ou declamada. Ou deixada como uma mensagem privada para que ela visse ao acordar. (Com sorte você acorda antes, com o barulho de notificação do aplicativo.)
E quando ela leu (acredito eu), o sorriso foi o maior possível e a vontade de desligar as distâncias como se desliga uma máquina moderna foi incontrolável. Eu sei do que ela seria capaz, porque é como se eu a conhecesse há uma vida. E só eu ainda não percebi que eu só sei o que ela fez antes mesmo de terminar o meu primeiro pensamento sobre o que fazer pra ela, porque no meu espelho essa distância toda nunca existiu.
Modernidade tem dessas coisas. Às vezes deixa tudo mais difícil.
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