8 de mai. de 2015

"Preciso de um tempo maior (...) e do tamanho do que a alma sente"

Quem pensa que aquela época dos 18 anos - reprovação em química, cobrança da família por um diploma e o terror do vestibular - era o começo do resto da vida não sabe o que é chegar aos 25 com diploma de graduação. E eu ainda nem terminei a monografia.

É aterrorizante sair da faculdade. Primeiro, porque é a primeira coisa genuinamente sua que foi concluída. Você decidiu fazer aquilo, você passou por todas as dificuldades e você está concluindo. É diferente da escola, sabe? Mandaram que você fosse durante anos. Mas, em geral, ninguém te obrigou a ir pra faculdade.

Depois, ser graduado é ser desempregado. Na faculdade há bolsa de monitoria, de extensão, de comida... enfim. Você não ganha suficiente para fazer imposto de renda (agradeça por isso! Os impostos estão cada vez mais abusivos), mas aquela é a sua pequena fortuna renovada a cada seis meses ou doze e você sabe que de fome não morre. Sair da faculdade é dar a sua fortuna todinha para outra pessoa. Eu não sei quanto a vocês, mas não sou nenhum Bill Gates, o que significa que perder uma fortuna de R$300 é, sim, um desespero.

Por fim, ser graduado é ter sempre um norte. Você faz as matérias num período porque precisa fazer as do próximo, e do próximo, e do próximo até, finalmente, chegar o momento da graduação. Você precisa do seu diploma, então sua meta é muito clara. Quando você sai da faculdade a sua meta é ganhar dinheiro. Percebe a mudança de foco? Pode ser que seu sonho seja ir pro Japão, estudar libras em Santa Catarina ou então fazer aquele curso de teatro caríssimo na Tailândia. Tudo envolve dinheiro. O diploma não envolve dinheiro. Só que pra fazer tudo o que você quer, retornamos pro ponto anterior: sem a sua fortuna, de que maneira fazer o que você quer?

É claro que podemos sempre arranjar um emprego. Bem... isso também depende. Uma amiga minha conseguiu um estágio super bacana na área de engenharia de uma mineradora hoje, sexta-feira, e precisa entregar a documentação, já assinada pelo professor, na segunda. Acontece que a chefe do RH, que estava cuidando da papelada, acaba de ser demitida e nem sabe pra onde minha amiga deve enviar a documentação.

As previsões econômicas e laborais pro Brasil não andam das melhores. Demissões em série andam fazendo os alugueis reduzirem em muitas cidades do interior enquanto os valores nas capitais aumentam assustadoramente. É exigido do candidato a um novo emprego uma experiência que ele muitas vezes não tem e, pra isso, cada vez mais as pessoas procuram cursos de especialização antes ou após o curso universitário. Muitos precisam trabalhar para custear isso - seja com empregos formais, seja matriculando-se nos cursos de mestrado e doutorado. Há muito a pós-graduação virou fonte de renda para recém-formados que não sabem direito para onde correr e os empregos formais (ou concursos públicos) são opções para quem não pretende ter títulos acadêmicos. 

Quando ter um título acadêmico é boa ideia? Ficar mais 2 ou 6 anos estudando com qual objetivo? Porque ao fim da pós-graduação, seja por ironia, seja por excesso de pessoal, os estudantes não saem empregados. Não é como um concurso para a carreira diplomática. Não será melhor entrar logo no mercado de trabalho e garantir um lugar antes que outros o façam? Aos 25 anos o mercado te exige muito mais do que aos 18 e a proximidade com os 30 parece fazer com que tudo ganhe mais peso. Algumas atitudes precisam ser repensadas, a forma de se vestir deve ser adequada e é esperado que você tenha um objetivo na vida. Ganhar dinheiro não parece ser um objetivo concreto porque parte-se do pressuposto de que num mundo capitalista esse é o alter-ego de todos. Na Academia o objetivo é concluir sua pesquisa - com bolsa, sempre que possível. Quase uma metonímia, parece mais palpável, menos objetivo, do que simplesmente ganhar dinheiro. 


Não importa qual seja a sua decisão, o fato é que pegar o diploma de graduação tem implicações assustadoras para o formando. A primeira delas é o fim de um ciclo, que por trazer o desconhecido em sua natureza já aterroriza. A segunda implicação é a vasta gama de locais em que se possa desempenhar a função para a qual estudou durante anos. 

Da mesma forma como um projeto de mestrado ou de doutorado, criado (teoricamente) exclusivamente pelo candidato, a vida profissional também deve ser uma escolha exclusiva da pessoa num oceano de ideias. A vida na universidade é mais fácil porque te dá tudo mastigado para desenvolver, como uma mãe-passarinho que alimenta o filhote com uma papinha já semi-mastigada para que ele possa, por si, terminar de fazer a digestão. A vida profissional é a mãe deixando o filhote cair do ninho pra aprender a voar. Ele vai se machucar algumas vezes; faz parte. No fim, ele aprenderá.

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