"Quem foi a pátria que me pariu?"

Às vezes bate um desânimo de tudo, uma coisa me falando que o mundo é burguês e morrerá afogado em notas de dólar. Outras vezes algo me diz que eu tenho potencial o suficiente para mudar toda essa realidade, porque no fundo o mundo vai mesmo acabar assim.

Mas é infundado o pensamento de que eu talvez possa fazer algo. Apesar de morarmos sob custódia de uma pátria que se denomina republicana e democrática, a verdade é completamente alheia às palavras. Basta olhar ao redor para perceber a pobreza das favelas aliada aos luxuosos condomínios da Barra da Tijuca ou aos apartamento de altíssimo padrão de frente para a praia de São Conrado.

Proveniente dos termos gregos demos e cracia (povo e governo, respectivamente), a palavra democracia deveria ser um governo voltado para o povo, mas o fato é que isto se chama socialismo. Onde há democracia, há facilidades para a burguesia, e o pobre vive cada vez mais acuado em seu mundinho de bosta, pedindo empréstimos a grandes burgueses (que colocam as taxas de juros onde bem entendem) para pagar as intermináveis dívidas ou os empréstimos anteriores.

Quando muito, o pobre se mata de estudar em colégios de péssimo nível (ou então alguns muito bem conceituados na área de educação, como no meu caso, excluindo-se colégios federais) e consegue uma formação superior. A partir daí, ou ele trabalha ou ele se enfoca em prosseguir com os estudos, pois as duas coisas simultaneamente podem não dar certo. No entanto, algumas pós graduações só são alcançadas se você tiver muito dinheiro disponível para gastar em estudos por durante seis meses e muito tempo disponível para passar o dia inteiro estudando. Resumindo, algumas pós graduações só são alcançadas por BURGUESES.

E então, o que acontece com a classe mais desprovida de atenção? Continua na mesma, mas com diploma de educação superior. Tenta olhar ao redor pra ver alguma oportunidade mágica piscando, no desejo incessante de aumentar sua renda para conquistar seus sonhos. Não obstante, alguns sonhos são caros demais para aqueles que, com muito esforço, compram dez dólares no fim do mês, na esperança de uma alta repentina na bolsa de valores - isso quando a boa formação secundária do pobre lhe dá a vantagem de ter básicas noções de economia.

Minha situação financeira atual? Pobre.
Meu desejo profissional? Aquela casa rosada, aquela pela qual eu passo sempre que vou para a Av. Rio Branco na tentativa de arranjar um emprego informal para ajudar minha mãe a pagar as contas do mês, à procura de alguma fonte de renda que faça com que a comida consiga durar um mês inteiro ao invés de apenas três semanas como tem ocorrido... Aquela casa rosada, pela qual eu SEI, eu SINTO que tenho tanta coisa por fazer... Aquela que eu sei que veria em mim um grande potencial, uma grande estrela de grandeza ainda desconhecida... porém, pobre.

Minha formação atual? Caloura de letras, futura... professora?
E foi por tanto fugir, que me deparei com o perigo. Magistério, o monstro, o abominável...
Espero, ao menos, que eu tenha direito a comprar 10l de tinta (parcelados em 10x sem juros) de tinta coral rosa claro para pintar a parte externa da minha casa na mesma tonalidade... ao menos terei o gostinho de entrar numa casa rosada, ao menos uma que eu possa chamar de minha...
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