Para aqueles que não gostam de ler, nem se dêem ao trabalho de perder seu tempo com este post. Ele indica raiva, desgosto, desprezo e um desejo único e insaciável de dizimar toda e qualquer pessoa bastarda e ignorante que tenha nascido em toda e qualquer classe confortável e com conhecimento o suficiente para conquistar o mundo - segundo eles, não nós.
Às vezes a gente acha que a situação não pode ficar pior, né? :D
Errado. Vamos rebobinar os fatos...
Bom, no último sábado fui a uma festa de aniversário de um parente do namorado. O cara é Classe A+, sabe? É simpático, legal, ama os filhos e a esposa e é uma pessoa de caráter, sem a menor sombra de dúvidas... e além disso, tem umas ideias meio trogloditas - como, por exemplo, transformar a Amazônia num enorme resort, pois só assim ela teria o cuidado que merece, afirma.
Pois bem. Aí foi aniversário dele e teve aquela reunião de amigos, todos (ou, pelo menos, a grande maioria massiva, com o devido perdão da enorme redundância) Classe A+. Alguns, eu até diria, Classe A++. Cada um com uma ideia troglodita pior do que a outra... até que eu ouvi uma que me deu vontade de vomitar: "Deu no jornal, o Colégio de São Bento foi o melhor no Enem, só pra variar. O colégio público só não é melhor porque os pais dos alunos não investem no ensino [ok, até aí eu também concordo, mas agora vem a parte em que todo o ácido úrico e suco gástrico quase saíram pela goela]. E sabem por que não tem esse investimento? Porque a escola pública melhorou muito seu ensino se comparada a 40 anos atrás, então os pais não vêm necessidade de cobrar mais de seus filhos, já que os colégios já fazem isso".
VAI TOMAR NO CU, SEU BOSTA!
Se o colégio público tivesse melhorado nos últimos 40 anos, o que haveria seria o sistema de Reprovação Automática: tá com menos do que a média mínima anual pra passar de ano? Pra que recuperação final? Reprova logo. Se não teve como conquistar 50% das avaliações em 3 tentativas, você realmente acha que em apenas uma o cavalo em questão vai consequir gabaritar?! Ora bolas, se o colégio público tivesse melhorado, o Colégio de São Bento já teria falido faz tempo, viu...
Eu quis me enforcar na hora que ouvi isso. Pedi até uma capivodka com o ambicioso desejo de os efeitos do álcool no meu sangue me fazerem esquecer da merda épica colossal que passou pelo meu tímpano e ficou entoxicada na camada mais sana do meu cérebro, mas lembrei que a caipivodka tava com mais vodka do que uma garrafa de Natasha, e eu realmente não gosto de sentir gosto de álcool assim. Então, pedi uma Coca mesmo e me esforcei pra fazer fotossíntese, na esperança de que aquele comentário infeliz e digno de um anencéfalo crônico com mal de Alzheimer fosse purificado e devolvido à natureza em forma de perdão aos meus queridos ancestrais (todos de escola pública e barões do café numa época em que colégios públicos eram dignos de educação).
Pois bem, aí voltei pra casa, tomei um banho (pra me purificar daquele ambiente com Dalits por toda a parte, onde permaneci boa parte da noite preciosa de meu sábado) e deitei. Quando eu abro o jornal hoje pela manhã, qual é a feliz notícia?!
Mudanças na Educação - clique aqui para ver o resumo da notícia
Bom, eu li a reportagem na íntegra (inclusive, para quem for assinante da Folha, na última página do caderno principal há uma entrevista com o diretor de um colégio público de Sampa dizendo que "o Governo atrapalha a gestão escolar") e o que está extremamente claro é que a nova grade curricular do ensino médio (que agora deverá ser mais uma subdivisão do ensino básico) será totalmente voltada para o ENEM.
Então vamos pensar... a educação pública está uma bosta, pois você teve ao menos 3 anos de aprovação automática e isso para uma reforma na educação é MUITA coisa. Somado a isso, você tem a falta de instrução das famílias dos alunos de escolas públicas, que não cobram dos filhos por N motivos, um deles é passar boa parte do dia fora de casa e acreditar na palavra do filho quando diz que fez todos os deveres, o que nem sempre é fidedigno. Sem contar, claro, professores extremamente qualificados, que passaram por concurso público para trabalhar onde trabalham, o que comprova que qualquer um deles é melhor do que muito professorzinho recém formado em Harvard de qualquer colegiozinho de merda PPP [papai pagou, passou], mas que são pessimamente remunerados; seus salários não têm reajuste, mas a economia em torno deles está ficando cada vez mais difícil de seguir.
Então, o professor vai trabalhar pensando nos vários problemas financeiros gerados pela falta de interesse do governo Estadual, Municipal e/ou Federal (raríssimas vezes) e, é claro, todos os problemas financeiros que ele carrega são refletidos em suas aulas, que caem um pouco de nível. Os alunos, por sua vez, não têm incentivo em casa, não fazem por onde se interessar pela matéria por mais dinâmica e diferente que seja a aula do professor e, além disso, estão pouco se lixando pro colégio. Muitos deles nem sabem o motivo por estarem ali, já que sua necessidade imediata é o trabalho e não o estudo.
Pronto, temos nossa educação. Muito melhor do que há 40 anos atrás, não é mesmo? Quando tínhamos uma prova de acesso à 5ª série do colegial, atual 6ª série do ensino fundamental (em breve, terceiro segmento do ensino básico... puta merda, hein, deputados?! Quanta nomenclatura inútil).
E aí, ao chegar no terceiro ano de um colégio público com uma educação LIXO, o cara tem dois caminhos: ou estuda pra passar na faculdade ou trabalha. A maioria dos alunos só tem os livros do colégio (que precisam ser devolvidos) para estudar pro vestibular; vamos traduzir, só têm aquele ano pra mudar suas vidas. E apenas 10.000 candidatos num universo de mais de um milhão conquistam uma vaga na universidade pública. Nem metade deles conseque entrar, e essa minoria é justamente caracterizada pelos alunos mais CDF's dos colégios. Quem não passa, senta, chora e tenta arranjar um emprego, no sonho de conseguir juntar uma grana pra pagar um intensivão à noite quando puder pra tentar conseguir o sonho de entrar pra engenharia, medicina...
Se vocês não conseguiram acompanhar meu pensamento e estão se perguntando o que a mudança no currículo do MEC vai influenciar nas faculdades, eu explico:
Os números que eu citei acima são fruto de 12 disciplinas muito bem definidas, que são cobradas em alguns vestibulares (UFF, por exemplo). É claro que há provas interdisciplinares, que vão avaliar não só os conhecimentos específicos daquela matéria, mas também a capacidade do aluno em interpretar texto (Enem, Uerj...). No entanto, se o governo resolver dividir o ensino em 4 áreas de atuação, ele vai ficar voltado APENAS pro Enem (isto também ficou muito claro na notícia integral), o que só dará capacidade percentual considerável pro candidato entrar pra dois tipos de faculdade: federais que aderirem ao sistema de vestibular via Enem e particulares vinculadas ao ProUni.
Algumas federais implementarão uma segunda prova além do Enem; menos mal e mais inteligência. Entre as particulares, isso não deve acontecer, e elas receberão alunos de colégios merdas (vide meu calouro de japonês - se você não sabe ainda da história, me pergunte. É assustador o que esse maldito sistema de cotas faz com a educação superior), alunos que nem sempre têm base pra seguir com o ritmo da universidade. Uma amicíssima minha, por exemplo, veio de colégios excelentes, sempre foi 01 da turma, passou pra FGV e tá tendo dificuldade em manter o CR dela alto pra não perder a bolsa. Agora imagina quem teve um ensino ruim, dividido nessas 12 matérias, e mesmo assim foi sempre o melhor da turma... agora imagina restringir ainda mais a educação! Deu pra entender onde quero chegar?
Fazendo muita alusão ao post anterior, a grande merda deste país é que tudo que é feito pra sociedade é escrito, debatido e escolhido por gente que nunca esteve na camada realmente social do Brasil pra saber o que vale e o que não vale. E pior, ainda acham que estão abafando! Acham que podem reformular o ensino a cada ano... pelo amor de Deus, Gaia, Alá... sei lá! Alguém tem que implantar um cérebro no mor-mor do MEC, surrar a cara do deputado que resolveu dar essa idéia de unir as matérias em áreas de conhecimento... porra, isso me dá um ódio, cara... ver todo esse dinheiro sendo jogado fora, porque pra educação nunca tem nada!!! Tá sempre em falta!! Mas banqueiro tá sempre com a mão no bolso. Professor nem põe mais a mão no bolso, porque sabe que de lá só saem dívidas.
Sinto que tenho muito o que fazer por muita gente aqui, e ao mesmo tempo me sinto brochada. Sinto mesmo que se eu sentasse na cadeira do Planalto seria muito melhor do que muito sociólogo metido a besta, falaria muito menos e faria muito mais do que qualquer metalúrgico. Sabe o que é foda? Se eu chegasse lá, com certeza seria assassinada... ah vá! Fala na minha cara que você acredita que a ditadura tenha acabado! Diz isso, diz, coloque provas na minha mesa, me faça acreditar nessa farsa. A única diferença é que vivemos numa era de mentiras e a ditadura não é mais militar; ela é sutil: "se você abrir a boca, eu deixo todos os podres rolarem no seu governo" (foi isso o que aconteceu com o coitado do Lula, embora eu concorde que ele também faz muita merda naquela sala dele e nas salas de reunião); "se você continuar falando, eu arruino sua vida". Coisas do gênero... por favor, me diga que você é brasileiro, mas não me iluda dizendo que você é inocente...
"Chegou a nova leva de aprendizes, chegou a vez do nosso ritual
e se você quiser entrar na tribo aqui no nosso belsen tropical,
ter carro do ano, tevê a cores, pagar imposto, ter pistolão,
ter filhos na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão,
ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão...
VOCÊ TEM QUE PASSAR NO VESTIBULAR, VOCÊ TEM QUE PASSAR NO VESTIBULAR...."
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Toda vez que essa música chega no trecho final, já citado, tenho a impressão de que R.R. transcreveu o que aquela maldita vozinha mental condenativa sussurrava-lhe às portas do vestibular. Mas não precisamos nos preocupar, visto que o ensino público MELHOROU NOS ÚLTIMOS QUARENTA ANOS, não é mesmo? Até a elite reconhece tal fato.
ResponderExcluirPorra, é pra rir - para não se resignar - da cara do sujeito que vomitou esse TOTAL ABSURDO.
Masss... essa história do calouro nipônico eu não conheço. :P
Masss²
Estamos quites: você não gosta da Clarice e eu não gosto de livros espíritas :B
No entanto, confesso que o livro que mencionastes me interessou; não dispensaria uma possível leitura.
No mais, eu também me desculpo por não acessar seu blog com a devida frequência, o que não aocontece pelos mesmos motivos que você também não o faz. XD
Gostei muito da forma que "articulaste" sua revolta.
Abraços!