Luzesinhas piscando, vários trenós pendurados nas varandas dos apartamentos, vermelho e branco colorindo cidades como Rio e São Paulo e um animador, exuberante e sedutor clima de compaixão, união e apego. É... chegou dezembro.
Por destino, nasci na capital desta Cidade Maravilhosa. Por natureza, ou ironia, desprezo quase todas as comemorações que fazem do carioca o povo mais alegre e colorido deste país. Enquanto há quem passe o ano inteiro esperando para ser o holofote semidesnudo de alguma escola de samba do grupo especial, eu passo 365 dias (ou 366) ansiosa e eufórica pelo Natal. É tão mágico, tão delicioso (deus abençõe o cara que criou as rabanadas - fritas!), é tão... tão... tilintante!... que eu não sinto falta nem mesmo do meu próprio aniversário.
Sabem... enquanto nas demais datas há um apelo consumista, no Natal é diferente. Não que o apelo não exista - mas a mentalidade é completamente diferente. Antes você compra porque "é páscoa", "é ano novo", "é dia das mães ou dos pais". Mas em dezembro você compra porque quer ver o outro feliz; porque sabe que se disser a todos que haverá troca de presentes, a família toda se reunirá - o que é diferente de reunir a família toda para fazer a troca de presentes. Se bobear, os membros esquecerão dos presentes pois se darão conta de que faz muito tempo que não se veem.
Nas ruas todos estão mais animados e esperançosos. Dão bom-dia a todos os trabalhadores (até pro Gari, figura esquecida no cotidiano de quem se acha superior), há mais sorrisos sinceros e o real desejo de que todos tenham boas festas sai naturalmente do coraçao das pessoas - mais verdadeiro do que o habitual "obrigada, tenha um bom dia".
Nos orfanatos, as crianças ganham dias de reis e rainhas, ganham presentes e têm a sensação de que vão ganhar novas famílias - e muitas delas vão ganhar mesmo! Nos asilos, as visitas são mais frequentes e a alegria de poder desfrutar de mais um Natal é geral.
Mas no asfalto, na vida como ela jamais deveria ser, Papa Nicolau nem sempre é tão generoso como reza a lenda. Quem não tem apoio familiar - ou talvez nunca tenha tido - não acredita em santo nem em milagre, não sabe a diferença entre caixa de engraxate e brinquedo. E talvez nunca tenha comido rabanadas, nozes ou arroz com lentinha.
Nem todos os orfanatos têm histórias bonitas e nem todos os asilos têm finais felizes. No mesmo bairro onde caviar é geleia, tem gente morrendo de fome antes da meia-noite. Na cidade com a maior porcentagem de latrocínio do país, tem rico andando bêbado de cerveja pela rua na madrugada do dia 25 porque, por N motivos, não sabe qual é o espírito do Natal. Sabe nem se tem espírito - não acredita nesta crença.
A mesma felicidade que se apossa de mim nesta época, sufoca meu peito durante todo o resto do ano. Ela me faz querer ser alguém melhor e me faz sentir realizada a cada sensação de bem-estar que promovo, direta ou indiretamente. Todos deveriam ter obrigação de sentir esta felicidade interna, este desejo de mudança. Afinal, é a vida de outros humanos que está em jogo, é um mundo melhor pros filhos dos seus filhos. E pros filhos dos filhos deles também. E assim, sucessivamente.
Você não se sente bem em saber que uma parte de você seguirá com outra pessoa? Que uma parte de você estará no subconsciente de alguém, ou até mesmo no consciente, se fazendo presente em cada escolha e em cada revolta, em cada pedido e empréstimo? Você não se sente recompensado em ajudar o próximo, seja ele quem for? Não é dar dinheiro na rua; é comprar o pão. E logo em seguida ensinar a fazer o pão. Assim ele não só poderá ter o que comer, mas também de onde tirar dinheiro para fazer qualquer refeição.
Neste Natal eu peço o de sempre, de todos os anos: paz e amor acima de tudo, solidariedade, respeito, consciência HUMANA e cidadã, saúde e intensidade - pois se é para se viver, então que seja intensamente, seja lá o modo de vida que se escolheu para seguir.
"Então é Natal e o que você fez?
O ano termina e nasce outra vez (...)
Então, bom Natal e ano novo também!
Que seja feliz quem souber o que é o bem"
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