10 de mar. de 2011

"Começou a faltar gravidade naquele dia...

... e o que não se amarrava, voava até se perder.
Declarado estado de calamidade
e o que se temia, ninguém explicava e eu ficava sem entender. (...)

E eu que sempre sonhei em voar, só queria sobreviver.
Mas como eu não sabia o que ia acontecer, aproveitava e dançava no teto feito Fred Astaire.

E o mundo fazia sentido de pernas pro ar.
E o mundo visto ao contrário parecia no lugar."


É mais ou menos assim que me sinto. O mundo está sufocando, mas as pessoas não se importam muito. E basta mudar a perspectiva da situação pra tudo fazer sentido. É, é mais ou menos isso o que eu vou fazer amanhã.

Na minha sala existem 3 malas (1 grande de roupas, 1 média de mantimentos e 1 menor com utilidades), 1 mochila enorme (com material escolar, carregadores e etc) e 1 rata, já com sua gaiolinha e pertences arrumados. Amanhã, 11/03/2010, partiremos (sei lá como XD) rumo Ouro Preto, MG, com a esperança de uma vida louca vida, repleta de linguística e novidades.

Depois de 2 anos com decepção atrás de decepção na Uerj, cursando Japonês, e também graças a uma GRANDE professora de linguística chamada Renata Palmeira, tomei coragem para procurar meu lugar, procurar fazer aquilo que eu realmente quero, dando a fuck pra onde quer que seja. Fiz o ENEM, participei do SiSU (e mantive minhas opções até o fim, não mudei nenhuma) e fui aprovada para a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O ENEM de 2010 foi melhor do que as últimas provas da UFOP - eu achei - então acho que o nível dos candidatos que ingressaram em 2011/1 deve ser melhor do que nos anos anteriores. O que todos devem tirar disso? Lição um: FAÇAM O ENEM! São dois dias de sofrimento que te darão 4 anos de sonho. Valeu a pena pra mim.

No último mês fiz um balanço da minha vida e decidi fazer um bota-fora não só pra ganhar de presente coisas úteis pra minha vida nova lá (que será completamente por minha conta), mas também pra falar pras pessoas importantes o que eu sentia que precisava falar para elas. Infelizmente, as pessoas que precisaram ouvir não puderam comparecer. Quem foi e não ouviu, tenha a certeza de que eu já falei alguma vez. Pra todos a quem eu não tive a graça de abraçar, vou expor, de modo geral, meus sentimentos.

Eu acho que fui uma boa filha. Nunca fumei, nunca cheirei, nunca cheguei bêbada em casa nem ameacei meus pais de nada. É bem verdade que eu quase não lavo a louça, o jardim (de 3 cadelas) fica sujo boa parte do dia, o lixo nunca está lá fora quando o lixeiro passa e eu nunca encontro a vassoura quando preciso. Mas todos sempre me elogiaram, as mães das minhas amigas simplesmente me amam, algumas me usam até de exemplo. Outras me invejam, querem que suas filhas tenham tanto empenho e força de vontade como eu tenho. Em particular, eu até escrevi sobre isso há algum tempo, a única que achava que eu estava perdida na vida é minha sogra, que acha que eu sou "solta demais" por viver em congressos e estudar japonês... 'tá, né.

Verdade seja dita: eu NÃO fui uma boa pessoa pra algumas pessoas. Venho tentando mudar isso, mas a gente não consegue mudar o que já passou, né.

Eu xinguei quem eu não deveria ter xingado, eu torci para que coisas ruins acontecessem a outrem por arrogância dupla, eu permiti que um amigo se afastasse e hoje eu corro desesperadamente atrás dele - mas também não dá pra ter tudo, e eu me desespero com isso. Consciente, tive atitudes inconscientes; vi o barco afundar e botei mais peso ainda sobre. E com tudo isso eu aprendi o que deve e o que não deve ser feito, mas eu jamais poderei agradecer por tudo.

Agradecer o quê? Tudo o quê? Será que o escorpiano é incapaz de aprender sem causar dor? Palavras ditas não retornam; elas seguem com o vento até onde não poderão mais ser ouvidas. E mesmo lá ainda machucam um ancião, que reza solitário pela evolução divina do mundo. Há quem aprenda com o erro do outro e eu não sei se dei a oportunidade de alguém aprender comigo, mas a todos com quem eu aprendi, eu deixo aqui meus mais sinceros e humildes pedidos de desculpas.

Estou de saída do Rio de Janeiro por uma série de motivos, entre eles falta de estrutura da Uerj e sua qualidade de ensino, que têm deixado a desejar. Mas não estou correndo de meus próprios problemas pessoais; acho que estou criando problemas novos, situações novas. E tenho certeza de que posso aprender muito com tudo isso, dessa vez com uma mente mais aberta e madura, sem a necessidade de ferir para aprender como é o processo de cicatrização.

Mais uma vez estou sendo exemplo para muitas pessoas: gente que, como eu, está insatisfeito com sua instituição de ensino; gente que está insatisfeito com a situação atual do governo; gente que está cursando algo de que não gosta; gente que não sabe o que fazer. Sei que estou sendo exemplo de garra e força de vontade, porque quem esteve comigo no dia do bota-fora são pessoas que estão comigo desde sempre e que também estão se empenhando em fazer aquilo que será bom para elas, por mais adversidades que apareçam: morar em Ramos e estudar na UFF, por opção; pegar engarrafamento todo dia em Copacabana, no centro e em direção ao aeroporto para tentar chegar a tempo na aula das 8h no Fundão; estudar ao lado de casa, mas tendo que ralar muito pra passar; estudar com o filho do então Governador e ter uma conversa de igual para igual com ele, sendo uma destas pessoas um rélis graduando proveniente de uma rede pública de ensino.

Fico muito feliz por ser exemplo, mas não sou perfeita. E não é uma viagem que vai mudar isso, mas eu vou começar uma vida nova. É uma casa nova com um pluralismo cultural intenso, novas visões, novas perspectivas, um novo conceito de mundo, um novo entendimento. E nada melhor do que entrar de cabeça em tudo isso, banhar-se em renovação.


Eu vou. E não sei se volto.
E se voltar, não será pela beleza da cidade nem pelas grandes oportunidades. Esta cidade cheira a mijo, especialmente depois do carnaval. Ouro Preto tem cheiro de jasmim, dama da noite, patchouli... é um convite ao banho renovador!

Por que não hoje? E por que não agora?
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