4 de jun. de 2011

"Depois do lar, do trabalho e dos filhos, ainda vai pra night fever"

"Disfarça e segue em frente todo dia até cansar... uo-oh!
E eis que, de repente, ela resolve então mudar:
vira a mesa, assume o jogo, faz questão de se cuidar... uo-oh!

Nem serva, nem objeto, já não quer ser o outro
hoje ela é o também."



(retirada do Google Images)

"Acontece neste sábado (4) em São Paulo a primeira Slut Walk brasileira. Slut Walk é uma marcha mundial de mulheres contra o machismo. No Brasil ganhou o nome de Marcha das Vadias. A primeira caminhada de protesto com esse nome aconteceu em Toronto, no Canadá, em abril, depois que um policial disse às estudantes de uma universidade que elas não deveriam se vestir como vadias (sluts) quando frequentassem o campus como forma de evitar os crimes sexuais naquela área. Indignadas, elas vestiram os maiores decotes e as menores saias e saíram às ruas para protestar." (trecho retirado do site da Revista Marie Claire)

É isso aí. A primeira marcha a favor da putaria no Brasil. Pior que dessa vez não se pode falar que só acontece no Brasil este tipo de coisa. Ok, estou generalizando. Vamos aos fatos.

Durante muitos anos nós, mulheres, temos sido vítimas de bullying (só porque 'tá na moda falar disso...) na escola (cabeça de bigorna, pobretão, patricinha), no trabalho (nós fazendo tão bem quanto ou até melhor o trabalho dos homens e ganhando menos, sem falar no menor prestígio), em casa ("você vai sair com essa roupa de puta?!") ou até mesmo entre as amigas ("não saio com você se você usar essa sandália horrorosa"). Verdade é que vivemos caladas para que não soframos mais preconceitos do que os já existentes. Mas esta realidade vem mudando de uns anos pra cá.

Tem sido cada vez mais comum as mulheres lutarem pelo que lhes é de direito. Agora temos um departamento de polícia especializado para crimes contra as mulheres, o que é um avanço social. Temos leis contra preconceitos e bullying, o que também nos resguarda da maioria das piadinhas de mal gosto e das diferenças sociais que nos atingem financeira e socialmente. E cada vez mais conquistamos nosso espaço no mercado de trabalho, seja no ramo artesanal, seja na política. Em suma, nós estamos conquistando o mundo, coisa que os homens - que sempre se vangloriaram de seu pensamento avançado - jamais fizeram.

Acontece que para cada uma de nós - e o feminino aqui está empregado adjetivando PESSOA e não MULHER - existe o livre arbítrio. Com ele, podemos fazer o que quisermos, quando quisermos. Mas o ruim é que as pessoas não querem assumir responsabilidades. Ora essa, cada escolha, uma renúncia, isso é a vida: aqui se faz, aqui se paga, meu bem. E temos que saber diferencias as coisas a partir deste conceito.

(retirada do Google Images)

Todos estão lembrados do fato, ainda recente, com Geisy Arruda (figura acima), a estudante de uma universidade em São Paulo que foi à aula com um vestido micro e precisou ser escoltada pelos seguranças da faculdade para que pudesse sair. Geisy foi com o vestido da foto acima para a faculdade e um salto alto. Não haveria festa alguma, se foi o que você pensou - ela estava apenas indo assistir a uma aula. Acabou chamando a atenção de homens (que, obviamente, ficaram excitados e loucos para passar-lhe a mão) e mulheres (que a chamaram de tudo quanto é adjetivo terrível para uma mãe ouvir). Começou uma represália na instituição de ensino e muitos jovens começaram a agir como animais, como se nunca houvessem visto coxas na vida, e a confusão se instalou. Bom, pra bom entendendedor, meia palavra basta - fora que o assunto é bem recente - e todos devem imaginar o fim da história. Em uma entrevista para a televisão, Geisy confessou que até mesmo um dos policiais que a escoltaram teria passado a mão nela. Ela foi duramente criticada pela sociedade brasileira, embora uma outra parcela da população demonstrasse firmeza ao apoiá-la. Mas poxa vida, de quem foi a culpa? Reticências.

Por que a mulher tem tido tanto apoio para mostrar que é capaz de fazer as mesmas coisas que os homens fazem e, na hora de por tudo isto à prova, é detida pela baixa mentalidade do povinho?

(retirada do site da Revista Marie Claire)

Está certo que a vida é sua e você faz dela o que bem entender. Concordo. E ninguém tem nada a ver com isso.
Mas infelizmente a represália masculina perante o abuso feminino não tem ligação alguma com a realidade machista do mundo. E sim, mulheres são abusadas. Nós somos. Não é porque vivemos numa democracia que podemos fazer tudo, e há um motivo muito claro para isto: vida em sociedade. Ela demanda muito mais do que possibilidades. Ela exige responsabilidades, coisa que vem sido extinta cada vez mais com o afastamento entre pais e filhos causado por diversos disparates sociais. Desde os primórdios da Terra aqui se faz, aqui se paga. O problema de você agir da forma como você bem entender é que você vai precisar prestar contas disso a alguém depois, e não temos como prever quem será a pessoa que cobrará essa explicação da gente. E não, papai e mamãe não estarão lá para salvar-nos de tudo o tempo todo.

Quer sair de saia curta? Quer se vestir a la femme-fatale? Quer se sentir gostosa nessa blusa que parece soutien e nessa saia que parece calcinha? Seja feliz! Mas saiba que alguém também vai querer se fazer feliz com isso, pois, além da falta de espírito de vida em sociedade, ainda lhe sobra preconceito.

Mulheres, sejamos sensatas: somos gostosas! E os homens pensam, na maioria das vezes, com a cabeça de baixo. Mesmo os homens casados podem ter - e, na maioria das vezes, têm - atração física por outra mulher que não sua esposa (vá lá! Eles estão apenas casados, não mortos). E é difícil para eles controlarem seus instintos. Se você aparecer de saia curta e top na frente deles, eles sequer lembrarão de seus carros, só pra ter uma ideia de quão poderosa é a magia dos peitos e bundas femininas.

Se você não quiser sofrer abuso sexual nem ser vítima de nenhum tarado em potencial ou sofrer bullying, o melhor é cuidar para que não pareça uma mulher "fácil" - ou vadia, na linguagem informal. Para os homens, a distinção é a seguinte: vadia usa roupa curta pra agilizar o sexo; mulher de família usa qualquer tipo de roupa, desde que valorize o corpo sem parecer vadia. O seu namorado QUER exibir seu corpo pros amigos. Ele QUER que os outros saibam que ele teve a sorte de grande de sair com um mulherão. Mas ele não quer que os outros saibam que você gosta de dar. Basicamente, é essa a diferença entre a vadia e a mulher pra casar - segundo a mente dos homens.

Portanto, mulheres, se vocês não estiverem a fim de:
- levar uma buzinada no peito ou uma mão-boba na bunda quando saírem na rua;
- serem forçadas a sair com um cara só porque ele acha que você tem cara de piranha;
- aliás, se você não quiser parecer uma piranha;
- ouvirem seus pais falando "bem feito" ao te verem na TV sendo arrastada por seguranças porque seus amigos de classe estão todos se batendo pra saber qual deles será o primeiro;
então não vale a pena vocês usarem qualquer tipo de roupa em qualquer ocasião. Toda roupa tem sua ocasião própria - inclusive as indecentes. Não custa nada ter maturidade e saber usá-las, não é mesmo?

Só pra finalizar, não me entendam mal. Sou mulher e gosto, SIM, de me vestir de forma ousada de vez em quando. Eleva a autoestima da mulher, coloca a confiança no teto e nos faz sentir poderosa! Mas, metaforicamente falando, você não usa salto 15 aos 10 anos. E deve haver um motivo nisso - cada um que encontre o seu. Quanto a mim, eu jamais iria a uma caminhada que, desde sua criação (em inglês) é entitulada "marcha das vadias" (citando aqui a diferenciação masculina entre vadia e moça "pra casar"). Eu não me sinto uma vadia nem acho que a mulher precise se orgulhar de se vestir desta forma - caso ela também não seja.

O que me deixa entristecida é que enquanto uns - muitos - se vestem de forma sensual para exercer atividades que pouco necessitem disto (como estudar, trabalhar ou ir ao shopping), uma parcela da população está lutando por algo muito mais constitucional, muito mais necessário, mas a galera - como sempre - está mais interessada no pão e circo.

Até tu, Brutus?..




.

Um comentário:

  1. Carol, como você bem desenvolveu em seu texto, ser mulher está para além de lutar por aceitação e exercer papel social, está também no nível das escolhas. Mas eu diria que ser homem também.
    E talvez você tenha representado os homens muito como animais, chimpanzés loucos por sexo, sem nenhuma profundidade.

    Ou você faz parte da massa amorfa que assume uma identidade e sai para a rua para afirmar e reforçar os preconceitos que te chamam de vadia, mesmo que você faça isso de maneira provocativa, ou você se esforça para destacar sua individualidade e respeitar essa abstração que se chama "liberdade do outro", que inclui a sua liberdade também. Mas como disse, e digo de novo, essa decisão também se impõe aos homens.

    Tenho a impressão de que a gente (de maneira muito geral) nem começou ainda a pôr o problema da diferença de gêneros, e temos consciência muito rasa do quanto a forma de enxergar a mulher ainda é condicionada por atavismos. Em parte, essa falta de consciência é amplificada pela política de pão e circo, a que a mídia nos acostuma, quando tem de encarar a questão. Por outro lado, o simples fato de ser mulher não é bastante para marcar qualquer premência de engajamento político (e poderia ser de outra forma?)

    Acho que respeitar a mulher é, antes de tudo, respeitar o ser humano. E a cisão de gêneros, ao constituir um fato cultural, já começa por separar as pessoas. Representar os homens como chimpanzés não ajuda muito a colocar o papel das mulheres como agente respeitador do próximo. No máximo, apenas ajuda a colocá-las como agente do mesmo sistema que a trata como objetos.

    Mas eu entendo que seu texto quer apenas marcar as escolhas que as mulheres devem tomar perante a sociedade que já começa por tratá-las como vadias. Apenas cuidado para não ser algoz da mesma crueza que você denuncia...

    ResponderExcluir

Antes de sair, gostaria de deixar um recado?
Obrigada pela atenção e volte sempre!