17 de jul. de 2012

"Et puis... rien"

Morar em república é aceitar o vento, o ir e vir das pessoas, situações e momentos. É saber que, como o vento, pessoas também podem trazer sujeiras ou brisas, deixar o ambiente desorganizado ou colocar um detalhe naquele canto onde faltava algo e não se sabia o quê. Ser estudante longe da presença dos pais é aceitar esta brisa - em todos os seus sentidos.

Andei pensando um pouco sobre idas, vindas e presenças ao longo deste mês que passei sozinha em casa...

No início do mês, ninguém em casa, nenhuma possibilidade de assalto à sua comida... "CAVIAR!", como disse uma amiga: Coca-cola, chocolates com recheio de licor de cereja (estou de dieta, mas abri uma exceção pela falta de assaltos à geladeira, rsrs), leite Ninho, cereal Crunch, Ovomaltine, queijo cheddar, presunto, pão integral, requeijão (light!)... ah! Aquela sensação de poder, de que então eu era a dona da casa. E, de certa forma, fui mesmo.

Na metade da minha estadia de um mês na minha própria casa, a saudade de gritos pela casa, danças exóticas, músicas diferentes... assumo que até do futebol senti falta! Saudade de ter que dormir no outro quarto ou na sala, ou de ver alguém fazendo isso. Saudade principalmente da Lúcia tendo outras pessoas pra conversar enquanto eu estou ocupada...

No fim do mês, a decadência: arroz de três dias atrás, um quilo de salsicha, pão francês, manteiga. Feijão? Só o que a Lúcia fez. Com muita água, pra durar mais. Necessidade absoluta de visitas, abraços bem apertados - daqueles de tirar o fôlego, presentes inesperados ou apenas presenças sem aviso prévio... pessoas em casa! Queridas, amadas... gente boa, sabe? A vontade de agradar com um café da tarde simples, mas caprichado. E, na saída delas para retorno às suas próprias casas, sentir até um pouco de falta de chão.

No último dia, arrumar a mala passa a ser o desafio. Duas até agora, cheias. E contando. A música alta ecoa pela casa, parece me fazer companhia - Les Chansons d'Amour soundtrack. Não sei se vai me deixar mais calma ou mais vazia ao fim do dia, mas por enquanto está me fazendo companhia, junto das montanhas, que choram minhas saudades; as paredes, que tanto me ouvem; e o quarto, de tantas histórias, lembranças. Uma casa inteira de vidas, vidas inteiras numa casa. É...

Não sei exatamente por quê, mas, desta vez, retornar pra "casa" por conta da greve está sendo pouco sedutor. A falta de lua, de alguém querido pra dizer "até mais", parecem fazer crescer um desespero progressivo - não pela falta de pessoas, mas pela falta das pessoas, daquelas que carregam os mesmos sentimentos que você no peito, daquelas por quem a vida vale a pena.

Morar sozinho é mais do que ser responsável pelo imóvel e mais profundo do que um sentimento de liberdade. É, no fundo, permitir que apenas aquelas pessoas que lhe são tão importantes visitem a sua vida no pedaço de mundo que se escolhe chamar de seu. É mais bonito do que olhos azuis, mais divertido do que vídeo-game, mais engraçado do que uma cama quebrada e com mais adrenalina do que roubar comida de algumas pessoas. E, acima tudo, menos solitário do que dividir casa com um monte de gente que não compartilha dos mesmos sentimentos.

Vai ver é por isso que está tão estranho sair da Carpe Diem hoje: porque a casa pra onde vou tem tudo isso de bom (amor de mãe, carinho compartilhado, uma vida inteira numa casa só), mas não posso mais chamar de minha... não mais. Não é mais o lugar que eu escolhi morar. É apenas um lugar tão importante pra mim no passado que hoje traz lembranças ótimas... mas que eu decidi deixar pra trás.


E assim como a casa de minha mãe já foi um canto de refúgio meu, especialmente o meu quarto, um dia eu sei que a brisa da vida vai levar a presença da Carpe embora e deixá-la para outros Dinos darem continuidade a uma história que começou há 10 anos. Há 10 anos essa brisa vem tomando conta desta casa de pessoas tão intensas e histórias tão marcantes, e um dia eu também serei passado aqui, e ela também será passado em mim, mesmo que não consigamos nos desatar. Mas até lá, vou morrendo de saudade de tudo, de todos, de minhas montanhas, do meu cemitério, do meu ICHS, do meu amanhecer... até que eu possa retornar. E até lá vou morrendo de desespero de ver tudo ir se afastando pela janela de um ônibus, com rumo pela empresa, mas que deixa meu ritmo sem prumo, sem estação de chegada, sem saber ao certo onde pisar; que me faz preparar diversas malas sem pensar direito no que estou fazendo, morrendo de tesão num pedaço de papel e caneta pra rabiscar, com esboços foscos e desenhos de traços bem definidos, que dissertam todo um amor que escorre pelos olhos e descansam nas mãos. Ah! Minas Gerais... quem te conhece, não esquece jamais!

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Um comentário:

  1. Mais bonito que Olhos Azuis? rsrsrs
    Tudo bem...

    A vida republicana, às vezes, trás sentimentos turbulentos... Às vezes é gente demais, roubando sua comida (ou também pra roubá-las. rsrs), ou gritando, ao jogar video-game... E o que não faltam são aquelas para te expulsar do quarto (bem como aquelas que não precisam dele nunca... rsrsrs). "Uma casa inteira de vidas, vidas inteiras numa casa".

    Enfim... agora são pessoas longe demais.

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