5 de set. de 2012

"I never know how the future will go. I don't know what to tell you, I'm not a fortune teller."

Cento e doze dias de greve. Li boatos de que era a greve mais longa dos últimos tempos. Parabéns, professores e sindicalistas, bateram recordes de movimento grevista  ignoração.

O governo foi intransigente ao afirmar que não negociaria mais com os professores desde que o Proifes resolveu assinar o acordo, que na verdade não dava aos professores o que eles precisavam, de fato. Os outros dois sindicatos se fuderam, sem o perdão da expressão, porque continuaram numa greve que foi amplamente ignorada por todos os setores governamentais. Agora está havendo uma saída em debandada, como uma manada fugindo de um leão, quando, no fundo, sabemos que se a manada se voltar contra o leão não há nada que possa ser feito para salvá-lo.

O que quero dizer com isso? As universidades federais estão saindo da greve porque não souberam trabalhar em equipe (e isso porque o que não faltam nas salas de aulas são professores dando trabalhos em grupo para os alunos).

Pra início de conversa, o primeiro erro: três sindicatos para uma mesma classe de trabalhadores, todos os três atuando da forma como bem querem, respeitando apenas alguns "gigantes", os "cabeças" da manada (UFRJ, UFMG e UFRGS). Fora essa base norteada nas assembleias destas três universidades, cada sindicato tem uma característica de luta e nenhuma delas se encontra. Talvez se todos os três sindicatos operassem em conjunto, sempre com muitas conversas entre si e análise em equipe de todas as negociações governamentais, quem sabe todos teriam permanecido fortes na luta e conseguido alguma conquista além da mixaria que conseguiram. 

Ou então a opção mais óbvia: se é uma mesma classe de trabalhadores (docentes federais), para que a existência de três sindicatos? Se fosse apenas um sindicato, ainda que algumas UF's tivessem saído da greve ao longo das negociações, a classe de professores ainda estaria de greve e não teria feito acordo por qualquer migalha de pão. O governo teria tentado mais negociações, os professores teriam conseguido mais coisa. Com a existência de três sindicatos, o governo negociou com UM deles. E como a luta dos três era igual e para uma mesma classe de docentes, o governo deu por encerrada a negociação - CLARO!!! ÓBVIO!! Não há como fazer um acordo com um grupo de docentes e outro acordo pra outro grupo. Se são todos professores federais, todos devem ter o mesmo acordo. Já fechou com um sindicato, fechou pra todos os outros, não precisa ter mais conversa. Se houvesse apenas um sindicato, provavelmente a greve teria sido encaminhada de outras formas.

De qualquer jeito, a realidade é uma só: estudantes que estão, muitos, longe de suas casas, precisando pagar aluguel de uma casa onde não estão morando por causa da greve; estudantes que estão com viagens marcadas desde o início do ano e que precisarão escolher entre a viagem e os estudos, porque muitos ficarão sem férias em janeiro e há professores intransigentes que não aceitarão negociar adiantamento de provas para esses alunos; alunos intercambistas que terão seu período no exterior não contabilizado pelo sistema da UF, já que estão, teoricamente, no segundo período de 2012, mas ainda nem terminaram o primeiro... a realidade é UMA BAGUNÇA na grade da universidade e uma grande loucura no calendário do estudante.

A sensação que temos é de que somos cobaias de tudo isso, a de que sempre estaremos lá para aceitar o que vier de cabeça baixa, afinal precisamos de um diploma e, pra tanto, precisamos aceitar certas coisas. Concordo que greves são o preço que nós pagamos pela decisão de querer estudar em uma universidade federal, mas existem limites.

Esta greve, sinceramente, está privilegiando a classe de professores universitários. O maior movimento é pela regularização salarial, com os devidos reajustes que quase nunca ocorrem (sou filha de professora do Estado e sempre vi isso acontecendo no contra-cheque de minha mãe), e com o plano de carreira. Pois bem, isto só beneficia os professores atuais e aqueles que querem ser professores federais. Eu não tenho a mínima pretensão de ser professora universitária, quero meu diploma de ensino superior para tentar concursos públicos melhores do que os do ensino médio, ou então trabalhar em alguma empresa, oficializar-me como tradutora (que há 6,5 anos venho exercendo como freelancer)... qualquer coisa do tipo, menos dar aulas no ensino superior. Logo, esta greve não me serve de nada. Ela só está me atrasando. E não é a greve que está atrasando os calendários das universidades, a vida dos estudantes e todo o resto: É A FALTA DE TRABALHO EM EQUIPE DOS SINDICATOS QUE ESTÁ FAZENDO ISSO.

Entendam que enquanto cada um olhar pro seu próprio umbigo, nada será resolvido.
E lembrem-se de que um dos princípios da ética no funcionalismo público, além do trabalho em equipe, é o objetivo por um bem comum. Vocês tiveram que estudar ética para entrarem no magistério superior, deveriam saber disso. Então por que não colocam em prática o que aprenderam?

Na real, essa greve já deu o que tinha que dar.

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2 comentários:

  1. concordo em gênero, número e grau com a sua prosa.Por burrice, fizeram a greve e agora estão todos se ferrando. já era. acabou o milho, não vai ter pipoca.

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  2. Pena que só fui ver esse seu texto, depois que a greve acabou Carol. Mas vamos lá. Achei bastante interessante a questão da necessidade de os sindicatos se unirem e tal... Mas, infelizmente, entendo que isso, apesar de ser muito bonito, é muito teórico.
    Conversando com quem compôs o Comando Estudatil, da UFOP, e também COM o dos Profs,também da nossa Federal de Outro Planeta, ficam muito claras algumas coisas. Mas antes preciso pontuar só uma coisinha em relação ao seu texto... Sobre a quantidade de sindicatos. Entendo que a existência do Proifes é realmente questionável, mas é algo que baterei depois.. Mas a existência do Andes e da Fasubra são sim fundamentais. Os professores são uma categoria e a dos Técnicos Administrativos é outra. Até porque, convenhamos, acho que os docentes não estão tão interessados assim nos interesses dos TA's. Seguindo por essa linha, também nós, estudantes, também tínhamos (ou temos, sei lá...) a nossa representação, a UNE... Mas a gente sabe como ela funciona, né? É outro ponto interessante a se tocar, mas para o fechamento.
    Agora, voltando a questão do Proifes e do Andes, pode-se descrever o processo de criação do Proifes como uma tentativa muito bem sucedida do Gov. de desestabilizar o movimento docente. O Proifes é uma massa renegada do Andes. Um grupo pró-governo, criado pelo próprio Governo para desestabilizar qualquer tipo de movimentação. Sendo que, esse grupo fez do diabo a quatro para acabar com a greve, mesmo estando OFICIALMENTE em greve.
    ps. Por isso, o Governo só sentou com o PROIFES para negociar.
    O caso dos estudantes foi muito parecido, o Governo chamou a UNE!!! para negociar a pauta estudantil grevista e não o Comando de Greve. Até houve uma tentativa da Aneel de tomar o movimento para si, no lugar da UNE, mas não rolou. A pauta dos grevistas do movimento discente era independente e não vinculada a um grupo (composto por membros principalmente do PSOL e PSTU, igualzinho ao Andes) que queria usar da Greve para se dar bem nas eleições. De qq forma, até agora o HADDAD tá levando em São Paulo com isso...
    Bem, como dizem, o buraco é bem mais embaixo. Só nos resta saber se ele tem fundo...

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