7 de jan. de 2013

"A vida se abrirá num feroz carrossel e você vai rasgar meu papel."

Compulsão por papeis. É isto o que eu tenho: compulsão por papeis. Diria que sou algo como uma caneta hipocondríaca, que, sem ter onde expurgar sua graça, gera um tumor de silenciosas letras - e explode. E, pra não explodir, sai escrevendo por aí, em guardanapos, papel crepom, papel A2, A3, A4, mesas, muros, cadeiras, tetos, mãos. Até tatuagem vale; o negócio é escrever. Escrever é preciso. Melhor ainda se for em papeis. Branquinhos, alvos, puros... carneiros de deus: PAPEIS!!

Eu preciso de um caderno. Não! Dois. Não! Três. Ah! Não importa. Importa que sejam cadernos, tantos quanto forem necessários. Já pensei em fichários - folha por folha, fichários são mais organizados. Mas não para a mão que vos escreve. Muito desorganizada, muito, de pensamento tão confuso... sou compulsiva por papeis, não por organizá-los. Tem diferença, não?! De qualquer forma, não me dou bem com fichários. Cadernos são mais organizados, é onde posso deixar meus pensamentos, mentiras e segredos sempre em ordem, mesmo que eu não tenha a menor para mantê-los. Pensamentos, mentiras e segredos ficam em segurança enquanto estão no tubo da caneta, dentro da tinta (que eu prefiro chamar de sangue), atuando como pigmentos indispensáveis (eu diria glóbulos) à coloração do papel (diria minha vida). Depois que saem de lá, sabe lá...

Só não sei direito como quero organizar pensamentos, mentiras, segredos em cadernos de forma organizada se a última coisa que eu faço é escrever em e organizar cadernos. Comprar cadernos é um prazer sobre-humano, quase como cheirar xerox ou passar o dedo na massa do bolo. Ninguém, exceto quem sabe como é bom, entende. Saber que em qualquer canto da casa existe um ambiente só seu onde escrever sua mente inteira é reconfortante demais! E eu tenho vários cantos em casa, então preciso de vários cadernos! Faz sentido, não faz? Mas acaba que é sempre assim: tenho vários cadernos e escrevo neles, mas cada coisa num canto e nunca termino. Digo, o que escrevo termino, só o caderno é que não. Sei lá porquê; vai ver são minhas Horcruxes, meus mini-diários ou mini-auto-biografias, que precisam ser agrupadas para fazerem sentido. Ou quem sabe sou mais uma das pseudo-pessoas de Fernando com minhas próprias pseudo-pessoinhas, cada uma em forma de caderno. Ou vai ver eu só sou uma lunática por cadernos, ora bolas!

Mas esse negócio de ser uma caneta hipocondríaca é complicado. É uma necessidade insana de escrever tudo, todo, em tudo, o tempo todo. É agonizante, principalmente quando não se tem papel. Aí, de repente, estou na cadeira da varanda tomando café, num casamento, na academia, na cama do namorado, na fila do banco, na piscina, e uma brisa, prosa, música ou o nada embaralha meu pensamento e pinça uma sinapse estrela... mas cadê a porra do papel pra escrever sobre o universo? Sobre essa estrela da minha cabeça que eu não sei donde-vem-pr'onde-vai? Um guardanapo, por favor! Amor, só um minuto, preciso de algo pra escrever. O vestido da noiva, de súbito, parece de um branco tão alvo e belo que eu juro pela minha Montblanc novinha quebrada por um trem que ele parece uma tela, que merece ser pintada com todos os meus pensamentos mais lindos. Eu só preciso de um caderno, nem que seja pra escrever uma folha em branco pra ler e interpretar quantas vezes julgar necessário...


Comecei com este vício pelos cadernos quando vi minha letra no meu mundo. Quando vi que a parede do meu quarto guardava minha mente, que meus poemas recepcionavam meus convidados à minha porta, que o muro da linha de trem era guardado por todas as memórias póstumas de Brás Cubas, que Allan Poe e Florbella Espanca operavam o elevador do prédio em que eu moro e que os andares emanavam Chico. Saí escrevendo por aí tudo o que me influenciava, tudo o que fixava na minha cabeça e não saía até que eu escrevesse tentando expurgar, e transformasse aquilo em poema, em texto. Em mim. Em caneta hipocondríaca, isto é o que sou, que escreve o que precisa no espaço que tem à/a mão, como se vozes de uma esquizofrenia a-bê-élística controlassem sua mente só enquanto durasse a tinta no tubo.

Mas não gosto de escrever em nada que não seja papel porque não dá pra amassar e jogar fora se não gostar. Nada lava tão bem a alma quanto um texto que lhe causou desgosto e é, então, rasgado, amassado e arremessado (nada a ver com prazer pelo descarte, mas sim pela renovação). Por isto que estou passando todas as paredes e cantos a limpo neste novo caderno que compre... merda!... Agora a caneta est´...

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2 comentários:

  1. Gostei bastante deste texto, as vezes parece que não há como expressar nossa alma,porém você fez isso com muita classe.

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    1. Obrigada, Mariana! Legal saber que tem gente que, assim como eu, tem alma de caneta e mundo de papel, rsrs. Fique bem! Abçs!

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