Vai ver foi assim que Chorão se despediu dos fãs e amigos. Não vou esconder que, na adolescência, voltava do cursinho de inglês correndo para ver Malhação. E a abertura era o principal motivo da correria, que eu levo até hoje e canto como um mantra cada vez que eu acho que a vida tá difícil: "o melhor presente Deus me deu, a vida me ensinou a lutar pelo que é meu." Não foi só a vida, não. Charlie Brown Jr., com suas inúmeras mudanças de membros, foi fundamental para o meu crescimento.
Via o Chorão sempre metido em brigas, sempre envolvido com drogas, e pensava que enquanto isso não influenciasse o trabalho dele (de forma negativa), que mal haveria nisso? Afinal, via vários pais e tios apaixonados por Beatles, reconhecendo que "Yellow Submarine" não poderia ter sido escrita em um estado menos ébrio, então por que o Charlie Brown Jr. era proibido pra mim?
Fato é que, logo eu, que sempre achei legal ser tão errada, cresci aprendo com o CBJR como não ser, o que não fazer e como se divertir sem exageros. Lembro do Chorão levando processo por ter espancado um cara no aeroporto - e confesso que ri da situação, mas respeito é respeito, não se pode sair por aí socando a cara de qualquer um (embora muitos pareçam implorar por isso). Carioca que sou, concordo com o amante de Santos que nosso escritório é na praia. Nas rimas dos problemas sociais entendi que os de lá de cima são gente, mas não são gente como a gente, que têm atitudes de playboy porque a vida é muito fácil, que pobre e otário são coisas diferentes que a minoria não entende.
CBJR não me levou apenas à militância política por dias de luta, dias de glória. Ensinou que camisa 10 joga bola até na chuva, que eu nasci pra brilhar e que o sol está nas minhas mãos, e que basta fé em Deus pra resolver qualquer parada. Ensinou que a gente tem sempre que acreditar em algo ("Ela me ignora, na esperança eu ainda fico"), que as dúvidas sempre aparecem para mexer na nossa mente ("Eu tô fritando aqui, vou me entregar, não agüento mais"), só que a perseverança pode render bons frutos apesar de todo o questionamento ("mas se eu não falar hoje, talvez nunca a veja mais"). Era romântico, falava que as flores são lindas em qualquer lugar do mundo e que ele não conhece todas, mas que mandaria todas as que ele pudesse para o amor que procura há muito tempo e ainda não rolou; que nada é impossível, que um relacionamento não precisa de promessas nem tentar ser perfeito. E que quando se pisa na bola, alguém sempre nos cobra.
Engraçado era ver as contradições. Era um romântico, quantos e quantos amores foram encontrados ouvindo o som e olhando o mar, e todas as músicas lindas que eram feitas para elas. Em contrapartida, não fazia poesia, não usava sapato, e que se foda tudo isso, o dinheiro não era digno de perfeição. Falava da subida longa da vida e que o chão era de pedra, e da dificuldade que era domar a própria fera de vida que temos pela frente. A hipocrisia, a falta de respeito (lembra que eu citei a vez de um soco no aeroporto? rs...), pisar em cima de alguém que já te ajudou antes, tudo isso era motivo de desbancar a sociedade, questionar que tipo de vermes as pessoas são. E ao mesmo tempo era motivo suficiente para prender-se a uma pessoa só, voltar sempre para casa para fazer todas as suas vontades. E se não puder fazer dela a pessoa mais feliz, chegar o mais perto disso possível.
E agora, em algum lugar, o couro vai comer. Aquele que me ensinou muito de vida em rimas, muito de sociedade em atitudes e muito de amor em melodia hoje ganha um palco especial, tão natural quanto a luz do dia, e mostra que existe um lado bom nessa história: tudo o que ainda temos a compartilhar, e viver, e cantar... o que importa é nossa alegria. E isso, Alexandre Magno Abrão tinha de sobra.
Clipe: Céu Azul - Charlie Brown Jr
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