20 de mar. de 2013

"Quando eu morrer, não quero choro nem vela"

Quando eu morrer não quero choro nem vela. Eu quero que falem bem de mim, que sintam falta dos meus sorrisos e da minha forma de ver o mundo, mas eu não quero que isso seja saudade. Porque quando eu morrer, eu estarei mais presente do que muitos dos vivos que conheço e muito mais saudável do que muito vegetariano.

Quando eu morrer eu vou ser lembrada pra sempre. Porque quando eu morrer, vai todo mundo saber quem eu sou, o que eu canto, o que eu escrevo, vai todo mundo virar meu fã e ser meu melhor amigo. Quando eu morrer, eu serei rica e linda, eterna pra quem nem me conhece, inesquecível pra quem gosta de mim e odiada ainda mais por quem não me suporta. Ah!... quando eu morrer, a vida vai ser outra. Ah, se vai!

Quando eu morrer eu quero uma festa tipo americana. Vai todo mundo usar traje esporte fino, porque eu acho chique. Um churrasco com tudo o que tiver de bom: cerveja belga, Coca-Cola, picanha recheada com queijo, medalhão com bacon e o arroz à piamontese da minha madrinha. Vai ter caipirinha de morango, vinho do porto, sakê e comida japonesa. Quero o bolo de laranja da minha avó e as rabanadas da minha mãe. Eu não vou comer nada disso porque eu estarei morta, mas eu quero que todos celebrem minha vida e a minha ascensão à classe burguesa in memoriam. E ai de quem se atrever a chegar com carne de segunda, caviar ou refrigerante barato: dou-lhe um susto daqueles épicos, pra aprender a não brincar com os mortos!

Quando eu morrer vai todo mundo contar piada porque chorar deixa a cara feia, e eu não suporto gente feia. Vai todo mundo falar piada de preto, gay, loira, judeu, porque eu acho o máximo humor negro. E quem achar que é politicamente incorreto nem precisa aparecer no meu churrasco de boas-vindas fúnebres, dispenso gentalha. Quando eu morrer, vou fazer o crente da minha festa baixar santo, o ateu começar a falar sobre a glória do pai, vou fazer o cachorro latir pro nada e fazer cócegas nos pés de todo mundo. Não vou causar calafrios, porque não serei um espírito qualquer; serei hot, sexy, e causarei uma onda de calor por onde passar.

Quando eu morrer quero ser embalsamada e enterrada com uma cabeça de javali só pra confundir os arqueólogos do futuro. Quero que peguem todos os meus poemas, músicas e textos e enterrem junto comigo - quero virar um mito, tipo Homero, que ninguém sabe, de fato, se existiu. Quero que me vistam de boneca e coroem Rainha do Mundo das Águas, e que isso venha escrito na minha auto-biografia psicografada como a segunda melhor coisa que já me aconteceu em vida. A primeira, foi morrer.


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