A citação de hoje é do hino da Argentina, eterna rival brasileira em esportes como o futebol, mas que, subitamente, parece estar sendo nossa nova favorita para campeã da Copa do Mundo de 2014 após uma declaração ao jornal britânico The Guardian feita pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Segundo ele, "Se eles [os argentinos] vencerem na final, eu me mato!" É o que esperamos, senhor prefeito! Mas assim como todas as suas promessas de campanha, tememos que esta o senhor também não cumpra. Mesmo assim a esperança não falha e nunca os cariocas foram tão hermanos quanto agora.
É bem verdade que política é sempre um problema na sociedade e que sempre haverá uma parcela da população descontente com o resultado que tiver sido obtido. Entretanto, o grande absurdo de ter Eduardo Paes em seu segundo mandato é não só a forma utilizada para ganhar, mas também sua maneira arbitrária de governar.
Durante as últimas eleições, foi feita boca de urna, declaradamente crime eleitoral, e nada foi feito quanto a isso; Dudu, como é conhecido ironicamente pelo mundo virtual, saiu comprando votos em diversos locais, fato que foi noticiado, mas nenhuma providência foi tomada. O prefeito ligou para diversas residências para pedir votos - aí, sim, ele se ferrou, porque foi considerado crime - mas também nada de tão importante foi feito, afinal, mesmo sendo crime, ele conseguiu se re-eleger. Há, inclusive, a suspeita de manipulação das seções eleitorais uma vez que a quantidade de votos para um candidato cotado para disputar o segundo turno foi muito inferior àquela contabilizada no dia da votação (e pouco tempo antes já havia circulado na mídia um informe da facilidade que é alterar os números da votação eletrônica, tida como "a mais confiável do mundo"). Tudo isto coloca nos cariocas um sentimento de raiva para com o atual prefeito por toda impunidade sofrida na frente de todas as câmeras, de todos os cadernos de jornalistas, de toda a sociedade, e pelo exemplo estapafúrdio que foi dado a todos ("para ser alguém na vida, trapaceie. No Brasil isso não vai te render nada de ruim").
Mas acredito que pior do que re-eleger alguém que bate nos cidadãos quando deveria dar exemplo de boas maneiras e de primeira classe é ter que conviver com decisões arbitrárias que não respeitam a vontade da própria cidade. Parece que Dudu age como uma criança mimada, que faz o que quer contra a vontade de todos os demais, sem ouvir mesmo os comentários que possam ser mais pertinentes não apenas para a cidade em si, mas também para seu governo. Não; ele quer, ele faz, tal qual um monarca, absolutista por excelência.
Que tal fazer um metrô na praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema? Afinal, a última estação vai até a General Osório, fica longe. Depois só tem Metrô na Superfície (que em outros países é um bonde tão reservado quanto o BRT, mas no Rio é apenas mais um ônibus). A Nossa Senhora da Paz é uma das poucas áreas com concentração de árvores no Rio de Janeiro, uma cidade que era banhada pela Mata Atlântica, mas que tem escassos exemplares dela. Mas para fazer um metrô ali, seria necessário derrubar as árvores existentes. Derruba! Dudu não é o único responsável pelas obras do metrô, aliás quem assina qualquer documento neste sentido é o [governador Sérgio] Cabral. Mas é muita inocência achar que, estando o metrô dentro da cidade do Rio de Janeiro, o prefeito não seria consultado, né? Afinal de contas, o governador assina o metrô como se fosse Estatal, mas Caxias, Nilópolis e Nova Iguaçu não têm estações de metrô. Ipanema, sim, tem uma, e agora quer outra. Mas... ah. Derruba, vai! Depois de um tempo, e de muitos protestos, a galera de Ipanema conseguiu reverter um pouco o processo, como pode ser visto na própria página do Governo do Estado, sem muitos danos às árvores centenárias da região. Talvez isso tenha acontecido pela pressão do dinheiro sobre a política, pois quando há manifestações contra o aumento das passagens de ônibus, que são abusivos se forem considerados os péssimos serviços prestados por todas as empresas de ônibus, nada é mudado e a população que não mora na Vieira Souto é tratada como verme, indigesto e indigno de atenção.
O Elevado do Joá está quase caindo. À época, Dudu e Cabral disseram que o laudo técnico apresentado pelos engenheiros estava errado (eles cursaram Direito na PUC, não engenharia; como saberiam que os laudos técnicos estariam errados?). Mandaram fazer outros laudos, que deram o mesmo resultado. "Ok", Dudu deve ter pensado, "vamos ter que ver isso." Solução? Duplica! CLARO! A solução para qualquer construção que esteja caindo é dobrar sua área. Ora! Qualquer estudante de engenharia sabe que não, e nem precisa ser aluno de uma Uerj ou UFRJ da vida, pode ser daquela pior mesmo que todo mundo conhece. Os pilares estão sendo reforçados, o que é bom, isso realmente deveria ser feito. Mas duplicar? Vai ficar bonito e tal... Só que existem obras na cidade que mal terminaram e já estão ruins. O próprio estádio João Havelange, "Engenhão", está interditado! E é uma obra nova (verdade seja dita, construído antes da gestão de Paes na prefeitura). Quanto tempo após a duplicação do Joá vocês acreditam que ele se manterá em pé, sozinho?
Outra questão perturbadora da gestão de Paes é o que está sendo feito nas favelas, em especial na Mangueira, ali, do ladinho da Uerj, onde casas estão sendo desapropriadas por serem consideradas "ilegais." Só que todas as casas de todas as favelas são ilegais, já que seus moradores não pagam impostos de natureza alguma. Então, o senhor prefeito decidiu remover todos os moradores das comunidades? Não. Qualquer pessoa que passe na Mangueira pela Radial Oeste vai perceber que algumas casas foram derrubadas, outras não. Mas todas fazem parte de um mesmo complexo residencial, então o que explica algumas estarem de pé e outras terem sido derrubadas? Arbitrariedade. Aparentemente ele escolhe quais ficam e quais saem. Como se ele fosse deus, aquele do antigo testamento, incapaz de perdão e inquestionável.
A gestão de Paes, do ponto de vista de construção e manutenção da cidade, se aproxima com a de Pereira Passos (prefeito do RJ entre 1902 e 1906), com essa arbitrariedade do "derruba tudo" sem muita definição do que, afinal, deve ser derrubado e o que seria interessante considerar. O que ele quer fazer, ele faz. Parece não se preocupar muito com a forma ou com uma regularidade; ele quer fazer o que ele quer fazer, porque afinal de contas quem vai levar a fama é ele. Mas fica a questão: fama de quê? De um prefeito que apoia milicianos, mesmo sendo eles um grupo de tortura das áreas mais pobres? De um prefeito que não ouve o pedido de seu povo e que sequer considera seus questionamentos? Dudu está assumindo a posição de uma criança mimada, que só faz o que quer quando quer e porque quer, sem levar muito em consideração qualquer coisa que é dita por qualquer pessoa.
Eu, atualmente, só conheço uma figura pública que aja da mesma forma: Felix, a bicha má.
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