Dilma Rousseff foi militante política durante sua adolescência na Organização Revolucionária Marxista - Política Operária sob influências fortes de Trotsky. Depois, durante a universidade, militou no Comando de Libertação Nacional - Colina, sempre sob diversos codinomes para não ser pega pelos militares. Participou em 1969 do sequestro ao embaixador americano, uma tentativa desesperada (e pacífica, já que há relatos do próprio embaixador dizendo que foi muito bem tratado) de um grupo de estudantes para libertar outros estudantes pegos pela Ditadura Militar. Foi torturada em nome do país, sofreu abusos sexuais, levou choques em nome de uma pátria autoritária e desrespeitosa. Hoje é a figura mais importante do país, que comanda o que entra, o que sai, que tem certa legitimidade para dizer sim ou não, muito embora suas decisões precisem ser pensadas por outras pessoas também. Mas, no fundo, se ela mandar, tá mandado. Então, diante da decisão autoritária mineira de que 853 municípios de MG estão proibidos de fazer manifestações durante a Copa das Confederações 2013, por que a presidente não comenta nada a respeito?
Fico me perguntando o que a adolescente Rousseff de 1969 faria se visse a transformação que ela sofreria 44 anos depois. Ela teria orgulho da imagem que vê? Ela teria as mesmas atitudes? Será que se renderia, assim como tantos outros, ao esquema das politicalhas deste país? Ou será que ela lutaria para fazer a diferença que sempre quis ver no mundo? Ela, que lutou tanto por igualdade, que sempre fez valer sua voz em luta dos direitos do povo, ela que foi eleita por tantos ícones de sua geração, por tantos adolescentes que acreditavam em todo seu sofrimento, por tanta gente que acreditava em sua história de vida e na possibilidade de mudança real... o que fez com que Dilma Rousseff de 2013 calasse aquela militante ávida por uma nação livre?
Talvez tenha acontecido isso, mesmo. Talvez os ideais tenham apenas mudado e aquela menina sonhadora tenha aceitado a realidade à sua volta, assim como tantos outros que participaram dos mesmos momentos de Dilma também mudaram seu discurso, vide Gabeira. Outros dizem que não teriam mudado nada, já que conseguiram aquilo que buscavam. Mas será mesmo que a essência muda assim, de uma hora pra outra? José Genuíno antes era um grande ativista dos direitos do povo, hoje chama os estudantes de baderneiros. Dilma sempre esteve à frente de grupos que lutavam pela liberdade de expressão e hoje simplesmente se mantém calada frente a toda a mobilização que assola o Brasil e outros países da Europa e da América Latina. São manifestações pelo direito do cidadão de receber serviços públicos de qualidade e a preço justo, que estão sendo ignorados não apenas pelos governos locais, como também pelo governo nacional.
E é muito TRISTE ter que admitir que a pessoa que poderia mudar tudo isso está de braços cruzados. Eu elegi Dilma Rousseff por um único motivo: militância política na ditadura militar. Eu pensei que uma pessoa que sofreu tudo o que ela sofreu, toda a arbitrariedade imposta pelo regime militar, faria de seu governo mais aberto ao diálogo com o povo e permitiria um início de mudanças sociais, onde governos nacional e estatais estariam em constante diálogo a fim de melhorar a qualidade de vida para as pessoas que neles vivem. Mas o que vejo é apenas uma pessoa torturada pela ditadura e que parece ter esquecido como é viver em uma sociedade autoritária; que vê governos proibindo algo permitido em lei, como no caso das manifestações públicas em prol de mudanças benéficas à população; e que está cedendo ao governo contra o qual tanto lutou, um governo de hipocrisias e atitudes autoritárias, que não ouve sua população gemendo de dor e morrendo por falta de atendimento em hospitais; uma população que recebe o péssimo serviço oferecido pelas empresas de ônibus, com motoristas que recebem pouco e são obrigados a trabalhar muito, sendo rudes por serem tratados como vermes, tal qual o restante das pessoas que utilizam qualquer serviço público; uma população que grita por seus direitos e recebe bala de borracha na visão, como tentativa de cegá-la para que não veja os podres governamentais. A população implora mudanças para que ela possa sobreviver saudável, mas tudo o que recebe de volta é ser chamada de baderneira pelos jornais, é ter as costas dos governantes estaduais que agem da forma como bem entendem e a hostilidade do governo federal, que finge não ver o que acontece, afinal é problema regional, não nacional. Ou melhor dizendo, ERA problema regional.
Não fizemos feio na abertura da Copa das Confederações 2014. Feio fez o governo em não entender o que estamos fazendo há semanas, há anos. Feio fez o governo por dar as costas às necessidades básicas da população. Nós vaiamos Dilma Rousseff, a presidentE eleita por um Brasil cansado de picuinha. A presidentE que quer ser chamada de presidenta, mas que não toma as atitudes necessárias para merecer o pedido que fez. A presidente que poderia ter feito diferente, porque este sempre foi seu discurso, mas até agora não fez mais do que o mesmo. Nós não vaiamos apenas a pessoa Dilma Rousseff; nós vaiamos os olhos fechados a uma população carente de tudo, que grita chorando e não recebe apoio de um partido que se orgulha de ser do povo. Nós vaiamos atitudes autoritárias que desmentem o conceito democrático do qual os governantes tanto se orgulham. Nós vaiamos os abusos que o povo sofre todo dia e que não são noticiados. Nós vaiamos R$0,20 de aumento porque não são apenas R$0,20 - são obras milionárias para ver onze homens jogando bola enquanto hospitais não têm médicos, enquanto doentes morrem em leitos esperando atendimento; enquanto tratamentos públicos de câncer são parados; enquanto é mais lucrativo ser traficante de drogas e armas do que aluno de qualquer escola; enquanto professores tentam fazer nas escolas de todo o país o que Dilma Rousseff fez durante a ditadura, difundindo ideias de um país melhor para todos, tentando fazê-los aprender conceitos importantes à noção de ser humano e gerando em seus alunos competência e sonhos para fazerem diferente, mesmo numa sociedade como a nossa, e recebem redução salarial das esmolas a que chamam salários, recebem spray de pimenta na cara mesmo quando são asmáticos enquanto tentam melhorias para escolas públicas (que só não estão piores do que os hospitais porque nenhum aluno tem sequer vontade de ficar dentro delas) e recebem o desprezo de uma população descrente que educação possa, de verdade, trazer melhorias a um país deficiente.
Eu me pergunto: como será que esta Dilma Rousseff...
... se sentiria hoje em dia?
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