6 de mar. de 2015

"O mundo acaba hoje, eu estarei dançando"

Saiu correndo e saltou do mais alto dos prédios. Pôs fim àquela existência vã. 
E, como um acorde de violão desafinado, seu grito ecoou pela janela do sexto andar, tão rápido, seco e estridente quanto ouvir "eu te amo" de quem não se espera.

Mas de que adiantaria - de que adiantou? - ninguém prestar atenção ao fim dos seus dias de drama? Terminou sua beleza com os cabelos curtos completamente desarrumados, aqueles castanhos profundos cortados na pressa de uma ebriedade em soluços. O olhar, antes tão vigoroso, agora emanava uma falta de vida afável. Palavras com afã se fizeram visíveis pela garganta, vesícula e peito abertos na calçada mal-cuidada pela prefeitura. E as pinturas e escrituras de uma vida inteira, daquelas que se pretende mostrar mas não encontra coragem, agora enfeitavam seu dorso destituído de qualquer júbilo.

As beatas da cidade comentam de um amor inefável.
O fato é que usava sapatilhas de ponta e tinha os dedos dos pés estilhaçados muito antes do que seu pulso pudesse contar.

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Um comentário:

  1. *__* Muito bom. Achei ótimo de ler em voz alta! estou aqui lendo e relendo da forma mais dramática possível! e é bom! é ótimo. a sonoridade, o sentimento! ^^ gostei mesmo Carol. bjooo

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