Dor.
Amargura.
Um nó na garganta que me cala
enquanto expurga o vômito ácido que me arranha a alma.
E é por causa desse corte que levo nas costas,
dessas unhas que arranham minha pele até sangrar,
é por causa dos meus dentes que se frisam pra impedir minhas palavras,
que eu não jogo tudo em cima de você da forma como merece.
É por desgosto, dor e amargura que você me toma por inteiro
e me dilacera sem dó o rosto e o deixa em carne viva;
e me faz gritar por socorro àquele que ainda me jogará ácido à risas.
É por desgosto, dor e amargura que você me causa bruxismo
até que a língua sangre o que eu lhe quero dizer;
e me cega de tanto ódio que escorre pelos olhos;
e me faz condensar toda a raiva de uma vida inteira nas unhas
e urrá-la como se se tentasse espantar o demônio do corpo do próprio Satã.
É por pura desgraça que eu alivio esse ódio que me ebule por dentro
numa foto antiga que eu me juro não querer mais
e dela faço pintura, que imagino vender a outrem,
a quem lhe interesse surrealismo.
Mas é com tanto ódio que expurgo o que quero,
é com tanto rancor que eu olho pra tela,
que o pincel sem dó arranca da tinta a vivacidade que nela há
e em vez de flores, pinta sonhos
de horror, morte e maldizer,
e em vez de amores, pinta vidas
de câncer e rancores póstumos.
E é com tanta raiva que me desfaço de você
que meu pincel vira faca e seu corpo vira a tela
e não há nenhuma cor senão vermelha do meu corpo estraçalhado em frente ao seu.
E o que me resta é ódio, comum e solitário,
em mais uma tela na minha coleção.
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Desafio Saligip foi desenvolvido por mim e pela Aline Mangaraviti e consiste de um post semanal contendo um texto nosso e uma imagem nossa (desenho ou edição) com o tema selecionado. O tema da semana passada foi Ira e estou postando com algum atraso. O próximo será inveja.
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