30 de abr. de 2011

“Hoje, em nome de uma só vontade, vão riscar de fogo o breu do céu”

"(...) Hoje o Sol vai despencar, hoje as ruas vão parar,
O teu beijo me traiu, hoje os prédios vão rachar e cair.

Hoje um cruzador americano vai parar no mar do Arpoador

Vai descer um gladiador romano de um disco voador
(em nome da liberdade)

Em nome de um deus que não é o seu (em nome da liberdade)
Em nome de um deus que não é o meu (em nome da liberdade)
(...)

Tempestades vão cair, edifícios vão ruir.
Hoje o céu vai desabar, hoje as moscas vão parar no lugar. (...)

Vão cair do céu de pára-quedas filmes, drogas e tanques de guerra.
Sete pragas para a Nova Era, dez minutos para o fim da Terra.

Vão mandar um projétil humano,
Vão levar o Cristo Redentor,
Vão pedir a bênção ao Vaticano,
Vão mandar um anjo exterminador.”

(Titãs)

Hoje, excepcionalmente, eu pus o nome do intérprete da música escolhida como título pois me identifico muito com a letra. Ela fala muito sobre o mundo em que vivemos hoje e é justamente sobre ele que vou falar hoje. A quem interessar, procurem por "Anjo Exterminador", no Youtube, para ouvir a música na íntegra.

Não se falava em outra coisa nas últimas 2 ou 3 semanas a não ser na união estável de Catherine Middleton e William Louis, dois apaixonados que se casaram, como quaisquer outros casais tanto fazem - não fosse o fato de Catherine ser uma duquesa e William, príncipe - mais especificamente, herdeiro de Lady Di. Só influentes e ilustres desconhecidos foram convidados para a cerimônia religiosa e ainda menos pessoas foram convidadas para o almoço e posterior jantar realizados pelo casal.

Em algumas redes sociais apareceram brincadeiras do tipo "Quem vai no casamento do William?", assim, de forma bem informal, como se ele tivesse convidado todo o mundo. Outras eram "William deixou a gente levar o frango! Quem leva a farofa?", "Kate me convidou pra ser madrinha e não tenho par; quem se prontifica?", entre outras.

Uma conhecida comentou revoltada: por que o casamento de alguém que nem de nosso país é tem tanta repercusão? Por que o povo se preocupa tanto com duas pessoas que nem sabem de sua existência?

Minha resposta foi muito simples: você prefere ver sempre a mesma coisa ou prefere novidades? Mas depois refleti um pouco sobre o assunto.

Pessoas, de forma geral, têm atitudes bem fúteis de vez em quando. Mesmo minha mãe, acadêmica, professora aposentada da rede estadual e ex-diretora de um colégio com mais de 3.000 alunos, pessoa com uma cultura geral absurda e conhecimento espiritual invejável, me ligou às 7h da manhã de sexta-feira, 29 de abril, e fez o seguinte comentário: "Eu só deixo você casar se for na igreja de Westminster e com o vestido igual ao da Kate!!" Meu pensamento na hora: ...

Verdade é que o que nos chega de deveras importante é quase sempre muito triste:








Quando perguntei à minha conhecida se ela preferiria ver as mesmas coisas ou novidades, referia-me ao que é veiculado na mídia. Só vemos tragédia, morte, epidemias, pandemias, assassinatos, latrocínios... mas nunca cultura, nunca alguma coisa que enriqueça a população. E já dizia Saint-Exupéry: "tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas." Se a população só recebe notícias de tragédia, desastres, enlatados deploráveis em geral, como tentar conter o crescimento da violência e suicídio?

O pior de tudo é que crianças estão expostas em tempo integral a este tipo de conteúdo. Não há mais uma classificação etária para o que pode ou não ser aberto a elas. E suscetível a qualquer forma de aprendizado, sem uma figura materna ou paterna influente, a criança pode se transformar em mais uma filha do Estado, refém do Ibope e (ir)responsável pelos atos que pratica.

Por isso todo o apelo ao cômico, ao fútil, ao irreal, a tudo que fuja ao que os demais consideram comum. As pessoas ao redor do mundo não queriam ver o casamento do príncipe da Inglaterra: elas apenas não queriam ver pessoas mortas, desespero, horror, tristeza, catástrofes... elas queriam apenas sentir que estão vivas. E esse gozo pela vida,capitalismo algum pode publicar: infelizmente a felicidade alheia (ou a indiferença ao mal) não dá Ibope.


P.S.: as imagens foram todas retiradas do Google Images, com exceção da foto do casamento Real, que tem seu link na própria imagem. Fotos do Google Images foram levemente alteradas com o nome do local geográfico a que pertencem.

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