5 de mai. de 2011

"O êxito tem vários pais; órfão é o seu revés."




Clipe: Fracasso. Intérprete: Pitty.

É verdade que a união faz a força? Ou só açúcar refinado?
Bom, se a união fizesse só o açúcar da vida, acho que esta seria muito mais gostosa.

Sobre egoísmo, felicidade e externalização pessoal, às vezes paro e penso que, de fato, o que falta para as pessoas é açúcar. É preciso viver de forma mais doce, é urgente ser mais amigo, é necessário ter mais compaixão, é indispensável trazer sutileza em forma de fala, é absolutamente irrefutável carregar amor próprio, é inegável a propagação da felicidade. E quando eu vejo que não é isso o que compete ao real ser humano, fico triste pois eu sinto na carne o oposto de tudo isso e de uma só vez. É como se a tristeza interna de uma pessoa que se mostra feliz externamente se apossasse de mim por um momento e me fizesse perceber como essa pessoa feliz realmente se sente. E isso é desesperador.

A felicidade, segundo o dicionário Aurélio, é um substantivo feminino que representa "estado de perfeita satisfação íntima; ventura / Beatitude; contentamento, grande alegria, euforia, grande satisfação / Circunstância favorável, bom êxito, boa sorte, fortuna: ele teve a felicidade de escapar do desastre." Sejamos coerentes de não confundir a fortuna acima com fortuna monetária. Mas o que é felicidade, afinal? Acredito que cada pessoa tenha um conceito diferente e que, por consequência, seja externalizado de formas diferentes. Mas também acredito que, de forma geral, felicidade = êxito pessoal, em qualquer área de conhecimento e da forma que melhor agradar a um.

O que muitas pessoas parecem não entender é que seu êxito pessoal, apesar de também depender de fatores externos a elas, depende única e exclusivamente delas. É o que canta a baiana Priscilla Novaes Leone (mais conhecida como a rockeira Pitty) em: "vive tão disperso, olha pros lados demais/ não vê que o futuro é você quem faz porque o fracasso lhe subiu à cabeça/ atribui ao outro culpa por não ter mais/ declara as uvas verdes, mas não fica em paz porque o fracasso lhe subiu à cabeça."

Em "olha pros lados demais/ não vê que o futuro é você quem faz", Pitty claramente exemplifica uma pessoa que se abstém da responsabilidade por seu futuro; isto é, alguém que procura alguém para fazer por ela o que ela própria deveria fazer. Tanto que o verso seguinte começa com uma chamada à atenção da pessoa para que ela entenda que ninguém pode fazer por ela o que lhe compete. Afinal, como o outro vai saber exatamente o que lhe traz felicidade, não é mesmo? A felicidade do outro com certeza não será a sua. Então, não faz mesmo muito sentido deixar que os outros façam a sua vida.

Curioso, também, é a citação à fábula da Raposa e as Uvas (versão abaixo), do majestoso Jean de la Fontaine, em "declara as uvas verdes, mas não fica em paz":

"Contam que certa raposa,
Andando muito esfaimada,
Viu roxos maduros cachos
Pendente de alta latada.

De bom grado lhes trincaria,
Mas sem lhes poder chegar
Disse: "estão verdes, não prestam.
Só cães os podem tragar!

Eis cai uma parra
Quando prosseguia seu caminho.
E crendo que era algum bago,
Volta depressa o focinho.

Moral da história: aqueles que são incapazes de atingir uma meta tendem a depreciá-la para diminuir o peso do seu insucesso."

Outra incrível moral que Pitty deu para a mesma fábula foi "vil é desdenhar do que não se pode ter." É de mentalidade muito pequena quem pensa que o que não se pode ter hoje sempre se manterá intocável. Certa vez me disseram "e por não saber que era impossível, alguém foi lá e fez" e penso que desdenhar do que não se pode ter, de certa forma, é negar aquilo que pode vir a acontecer no futuro; é negar sua própria capacidade de fazer o diferente e manter-se igual e medíocre (in Aurélio: adj. Que está entre o grande e o pequeno; o bom e o mau) como a massa da população brasileira. Infelizmente.

Por fim, algo que me fez pensar muito foi uma junção da criatividade do diretor do clipe com uma citação a um discurso de Tom Jobim: "o maestro bem falou, a ofensa é pessoal." A frase oficial de Jobim havia sido "no Brasil, fazer sucesso é uma ofensa pessoal." No clipe, entretanto, percebe-se a interpretação do conceito de sucesso exterior e fracasso interior. Fica claramente evidente como uma pessoa pode ir do salto alto à rua com egoísmo e inveja, presentes logo no início da música em "aos que sofrem, por fim, o céu/ abranda a raiva" - o mesmo preceito de algumas religiões que citam que, amando seus líderes religiosos, seus pecados serão apagados e seu cantinho no céu estará garantido. E o sentido de a ofensa ser pessoal é bem identificado em nossa cultura se pensarmos que, por muitas vezes, falamos que uma pessoa é linda e aparenta ser muito bem consigo, e logo após completamos: "pena que é gorda(o)." Como se obesidade fosse um problema, algo que puxasse a pessoa para baixo - diferentemente do desdém e da inveja, que de fato nos puxam para baixo de forma lenta, sem que percebamos.


O que mais me assusta é ver que, por muitas vezes, quem deveria fazer o papel de invejoso é quem se demonstra nossa sombra e quem deveria ser a sombra aparece refletido em nossos espelhos tal qual um vampiro. Não faz sentido o desconhecido ser-nos tão bem apessoado e o famoso, tão mal apresentado. E mais curioso ainda: o desconhecido é o exterior de sucesso, o cafetão, e o famoso, o interior falido, a puta.

A triste diferença é que a puta despreza o que nunca vai ter e o cafetão não perde uma só oportunidade - ainda que dê errado, servirá de aprendizado. É como vender um bolo: quem faz se preocupa com o gosto, o molde, a aparência, a qualidade. Se colocar açúcar demais, servirá de exemplo. Quem precisa daquilo para viver está interessado apenas em ter o produto, o processo de preparo pouco lhe interessa contanto que esteja pronto.

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