- E quando ela voltar? O que será de nós?
- Eu não sei.
Assim terminou uma sequência de discussões infundadas e amores arrastados tão brutalmente quanto um menino que é preso do lado de fora do carro e levado em alta velocidade contra o asfalto quente das rodas cromadas. Discussões infundadas e amores arrastados tendem a ser muito parecidos: ambos são destrutivos, queimam a pele, fazem sangrar os olhos e contorcem as vísceras. Talvez aquela pergunta ainda tivesse um pouco de ácido sob os ferimentos.
Foda-se o amor.
Quem disse que o amor é uma coisa divina estava delirando. O cupido tem uma arma: sua primeira demonstração de afeto é pela dor de uma flecha encravada no peito. Depois, a flecha serve-lhe ao menos de consolo: ele precisa defender-se do próprio assassinato, apologize for what he's done. Mas pedido de desculpas algum é capaz de retirar as cicatrizes que esse anjo encapetado deixa. Nada nessa vida doi menos do que retirar uma flecha dolorida do peito.
Mas há quem procure esta dor.
Há quem não apenas se deixe acertar, mas, mesmo que num ataque de fúria, retire a flecha do peito e cauterize-o numa tentativa lasciva e inútil de retirar tudo de ruim dali. Mas os pontos internos não fecham e qualquer coisa que encoste durante o período de recuperação pode fazer o ferimento abrir. Só que - macacos me mordam! Não entendo por quê! - tem gente que insiste em colocar uma outra flecha no buraco que nem sequer começou a cicatrizar. Antes do tempo. Antes do desejo. Antes do amor. E o que acontece é o seguinte: o Cupido, este maldito, acerta uma flecha no peito, que doi como um suicida acertando o chão após 2 minutos de queda livre. A flecha é pressionada pra dentro, cada vez mais fundo, ao mesmo tempo que é girada. A hemorragia vai deixando o corpo mais quente por fora. A flecha é retirada da forma mais rápida possível numa tentativa insana de conter a dor - e outra flecha, menor e mais fina, é colocada no lugar. Isto depois de tentar cauterizar o machucado. Isto depois de jogar ácido no buraco aberto onde deveria haver pele, coração e pulmão. E antes que pudesse sequer haver uma pessoa ali ocupando aquele lugar onde não havia mais nada, uma flecha (ridícula, não faz dor alguma porque não tem conteúdo algum) é colocada ali.
A dúvida prova a falha de Cupido. E a estupidez de quem deixou-se sangrar à morte na tentativa de viver com um placebo - que de tão vil, chega a ser deplorável.
O que vai acontecer quando eu voltar?
"Better pray for hell, not hallelujah."
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