12 de ago. de 2014

(sem título 084)

Quarta-feira, 22:57.

Nada é o que parece, não é? As aparências nem sempre são nítidas. É tudo meio turvo. Está tudo meio escuro.

Não faz muito tempo, eu entrei neste ônibus. Eu tinha um destino enquanto comprava a passagem, já na rodoviária, mas agora tanto faz. Algo em mim diz que devo ir até o ponto final, ao menos é o que diz neste papel. Mas talvez eu desça antes. Se há algo bom em não ter destino é poder fazer o que te faz sentir bem. Mas eu agora eu só

Torpor.

Única e exclusivamente essa não vontade de sentir. Deve ser pelo ônibus vazio ou a estrada envolta na escuridão de uma neblina de quase inverno. Toda essa ausência me faz pensar que a ausência de destino é uma boa terra firme. Ausência de pensamentos sobre o local ser frio, populoso, conhecido, cheio de mato. Ausência de preocupações, de assaltos, de créditos no celular. Ausência de qualquer coisa que me lembre que

São meia-noite. Ou é. Agora é só indiferença.
Torpor.

Lá fora tudo parece automático. Eu desafio a física; meu corpo parece correr num ônibus parado, rodeado de caminhos. Aonde eles levam? Eles param nessas cidades que eu nem sei quais são. De fora, no breu, até parecem bonitas. Interessantes. Têm nomes de santos. (As pessoas devem pensar que) É uma pena eu não ser

Ateia.
Ausência.
Torpor.

O motorista apaga a última luz às 4h32. A estrada está até mais longa e o que antes era ausente se preenche com o breu do dia que não amanheceu. A névoa cá fora é grossa; de onde venho, chamamo-la "russo." Mas agora já não importa de onde venho pois não me apetece voltar. A ausência de luz me incomoda. É quase um ócio degenerativo - parece frio; parece bom. (Não estar aí) É como se nunca mais

Dor.
Você.
Torpor.

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