Quando falo que sou carioca muita gente
não entende por que resolvi deixar uma cidade grande e me mudar pro interior.
Além da especialização profissional, eu buscava um pouco de paz e sossego, um
pouco de frio, um pouco de humanidade.
Das coisas que mais me
incomodavam no Rio, a falta de respeito era a pior. Ela vinha de todos os
lados: gente que pulava a catraca do ônibus sem motivo, assaltos à porta de
casa (eu mesma tive dois celulares roubados numa mesma semana quando voltava do
trabalho), prefeitos que roubam vigas de viadutos derrubados. Certa vez, em uma
mobilização pacífica, a polícia recebeu ordens de atirar contra um grupo de
manifestantes que oferecia o enorme perigo de estar cantando sentado no chão.
Tudo parecia ficar ainda pior quando o frio passava e ficava apenas a amostra
grátis do inferno: uma primavera com temperatura de 36ºC às nove da manhã.
Não tive palavras para expressar
a liberdade que senti quando cheguei em Mariana. É verdade que a cidade poderia
ser melhor, ter mais eventos para os moradores, mais atrações para os turistas,
mais água nas casas no carnaval, mas o clima agradável, o ambiente histórico
preservado, a gentileza da maioria das pessoas daqui fazem com que os lados
negativos sejam abafados. Diferentemente do Rio, eu me sinto confortável aqui
para ser quem sou e ir aonde quero sem me preocupar com toque de recolher. Há
rumores de assaltos e alguma violência na cidade, mas, talvez por sorte, todas
as vezes em que vi o sol nascendo na Praça Minas Gerais foram sempre muito
calmas e pacíficas.
É importante que o clima de
respeito ao outro permaneça em Mariana, afinal é um dos atrativos da região, e
o trabalho da polícia militar tem sido exemplar nesse sentido. Por meio de
denúncias dos moradores (não apenas nativos, mas estudantes também), alguns
traficantes foram presos em flagrante. Outros, que já vinham sendo
investigados, tiveram mandado de busca e apreensão expedidos e também pararam
atrás das grades. É claro que ainda há muito a ser feito, vide a Operação
Minerva, quem poderia vir para Mariana, e os constantes assaltos e ataques com
bombinhas contra casas nos bairros São Gonçalo, Rosário e Santo Antônio, mas é
necessário dar um passo de cada vez.
Já estive em muitas festas em
residências de amigos meus, nativos desta cidade, em que viramos a noite
bebendo, rindo e ouvindo música. Moro do lado de um clube onde festas acontecem
normalmente e parece que estão dentro da minha casa. Comemorações são normais
do ser humano e não há nada de ilegal nisso em um país democrático, como é o Brasil.
Recentemente um estudante foi preso na Praça Minas Gerais durante um luau de
confraternização entre universitários (muitos dos quais, marianeneses e
ouropretanos). A situação: maiores de 18 anos cantando e consumindo bebidas alcoólicas.
O flagrante: um violão.
Polícia militar, é verdade que a
senhora só deve prender criminosos se tiver um mandado expedido por juiz? É
verdade que o flagrante de um crime deve ser algo considerado ilegal? É verdade
que a senhora só deve encaminhar um suspeito à delegacia em caso de flagrante
ou se for procurado pela justiça?
Senhora? Senhora?
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